segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

ENQUANTO O SOL BRILHA LÁ FORA...



ENQUANTO O SOL BRILHA LÁ FORA...

M. Martins Santos

Muitas vezes nos caminhos que andamos diariamente não há mistério á nossa espreita. Nenhum perigo ou ataque eminente, nada sobrenatural, nem sobressaltos. E para garantir nossa integridade física a experiência e os alertas nos dizem: “ beber e dirigir está par e passo com a desgraça; fios desencapados se tocados no negativo e positivo vamos levar choque e o  perigo aumenta de acordo com a voltagem; os vícios nas drogas jamais aumentam os anos de vida, e quanto mais fundo for, o hospital a cadeia ou cemitério mais nítidos ficam.”

Alguns de nós sabemos e por nossos médicos somos alertados também, que certos “gatilhos” nos são proibidos como alimentos - que se os comermos ou bebermos - iremos ter surtos de enxaqueca, labirintite ou reações alérgicas. Sou um desses casos que tenho que seguir a mando médico a “Dieta do C”. Outros são alérgicos a lactose, e tantas outras coisas que para uns é de total inocência já para demais é um perigo a qualquer idade.  

Certos alimentos ou bebidas de cores escuras  compõem a chamada “Dieta do C” ou que começam coma a letra c - café, chocolate, Coca-Cola, cigarro, cerveja, cachaça, são certos em fazer o nosso incomodo surgir quase imediatamente, mas nós teimosamente comemos, bebemos ou usamos alguns desses produtos - sabendo do resultado.

Sabemos que pensar em determinados assuntos tristes, pesados, desastrosos, irritantes, vergonhosos e decepcionantes (política brasileira por exemplo) constantemente, vão nos deprimir, mas cutucamos a ferida até doer. Assistimos os Jornais da TV, as noticias policiais, as catástrofes, o terror, os assassinatos, lemos jornais e revistas políticas. Estamos mais que sabedores sobre os tons emocionais que não devemos colocar na palheta de pintura de nossa vida diária, mas escolhemos exatamente aquelas que destoam ou não combinam com a paisagem que vamos elaborar. Temos opções de cores variadas nos tubos de tintas em nossa caixa de pinturas, mas acabamos por fazer uma obra feia, sem graça, deprimente, sem aplausos; por teimosia ou preguiça de combinar as cores adequadamente.




Ao final da auto sessão-tortura, que sadicamente nos proporcionamos estamos para dormir um “caco”, com uma mochila de pedras e lixo nas costas, desnecessariamente, porque não mudamos uma fração de milésimo o mundo.

Assim fazemos tudo na vida. O trabalho de pensar nas coisas boas é o mesmo trabalho de pensar nas ruins, mas acabamos por pensar no mal, no feio, no ruim, na morte, na doença... Enquanto o sol brilha lá fora, o vento passa e Fernando Pessoa tendo dito: “Há dias, que só de sentir o vento passar já vale a pena ter nascido”... E não aprendemos a ter felicidade - um pouquinho sequer, por pura questão de opção de pensamentos - porquanto já sabemos as respostas às nossas questões mais inerentes àquilo que fomos e  somos. Ao que seremos está em outra dimensão. 

Temos em nós mesmos todas as respostas à nossa própria natureza dos sentimentos presentes. Por fim temos que nos perdoar de erros cometidos no passado. Os caminhantes como fazem os romeiros de grandes distâncias, os militares em marchas,têm que fazer seu bivaque, ou sua estalagem, caso contrário não chegarão ao destino. O corpo assim como a mente tem seu limite de exaustão. Carregar a própria culpa, nunca se perdoando é dar fim de si mesmo. E existir mas não ser. É ser um simulacro de si mesmo, ao acariciar a esposa e dizer que a ama, é ser um fantoche a brincar com os filhos e netos. Pare de “dormir com aquela mochila nas costas”, se autentique com a limpeza de seu próprio perdão, volte a ser você.

Depois perdoe aos outros, não precisa amá-los - um dia talvez - mas já não os odeia mais. Se não o fizer serão ainda pedras com arestas e cortes a carregar na mochila. Esvaziando a mochila já nos dá um certo alivio. Tirá-la das costas, melhor ainda, para garantir um sono mais tranquilo.

Culpas são pesos sem amostras,
Desculpas preterição de perdão,

São mochilas de pedras às costas
Culpar-se, peso de inútil emoção.

Armadilhas que travam o caminhar
Embargam o amor em teu coração,

Centro de tua verdade sem vacilar
Vá, perdoe-se com toda superação!   

sábado, 18 de fevereiro de 2017

TU GALATHÉIA, MEU MISTÉRIO







































TU GALATHÉIA, MEU MISTÉRIO

Primeiro as nuvens ligeiras e rosadas,
Logo as seguem as avermelhadas
É o prenúncio de eminente temporal...
Bandos de pássaros fogem em aluviões,
Nuvens rotas, escuras e acinzentadas,
Ou amontoadas com suas bordas prateadas
Tingidas pelos coriscos dos raios e trovões,
Tingem a cúpula da inversa atmosfera abismal...





Gosto de ti forte chuva, nos telhados,
sonho e vejo coisas que ninguém entende.

Em meio ao vento e relâmpagos, se desprende

quadros fantásticos, aerotransportados.
Dos pilares infinitos escorrem cores delicadas
Leves, não são primárias, esmaecem misturadas;
Perpassam longos dedos brancos de uma fada,
Nas alturas, evola o som de uma voz desolada...




De tuas pálidas mãos saem imagens encantadas,
Uma alada canção palpita e aos píncaros ascende,

Imagem fantástica que os meus olhos apreende,

Como o espoucar de um impossível plenilúnio,
No firmamento mutante de veredas desoladas,
A descobrir teu rosto branco e frio, ó infortúnio,

Por que imitas as máscaras e vedas teus olhos?
A marcar assim encoberta o arrepio deste mistério! 











Teus seios tomados de flores rubras, estranhas, dolorosas…
Gélidas, mil cores, que escorrem em teu peito de rosas.
Talvez após todas as tempestades desponte
O dia que possa desvendar tua aparição misteriosa,
Buscarei minha doce dama no fundo de meu coração, 
Cria-la em tela, embora inerte - serás a minha rosa...
Eu Pigmalião, tu Galathéia minha doce amada e formosa
Donzela esculpida na ótica tridimensional da ilusão.




Ao receber meus presentes e beijos, ficaste carinhosa,
Ganhaste vida, minha querida, similar da lenda famosa,
Ouviste meu clamor, condoeste por meu amor solitário,
Saíste de teu pedestal, beleza de estrutura harmoniosa,
Eu te criei em proporções, zelo e amor de forma ditosa,
Branca de marfim, aos poucos emanaste cores no átrio,
Ganhaste o calor em teu corpo, cor nos lábios, ó delírio

Tenho agora a ti Galathéia, a mim tornaste meu corolário!






quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

AQUELES QUE PASSAM POR NÓS...






“Aqueles que passam por nós, 
não vão sós, 
não nos deixam sós. 
Deixam um pouco de si, 
levam um pouco de nós” 

[Antoine de Saint-Exupéry]

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

EU QUERO ME CURAR DE MIM




HUMILDADE
FRASES TÃO SIMPLES QUANTO PODEM SER
M. Martins Santos.

Gerações se foram outras vêm
Derriçando tudo que era do Bem!

Ninguém sabe o quanto o bem é querido,
Senão depois de lamentá-lo quando perdido!

Quando estou contigo, queria que o dia chegasse bem devagarinho
como se não quisesse que a estrela D'Alva fosse embora...

Toda Arte que reproduz o belo, tem parentesco com a natureza, descende do Criador, é nossa irmã.

Sou o mais rico dos mortais,
Isso não preciso provar a ninguém.
Quanto menos tenho mais rico sou,
Passarei a vida isento da escravidão material!

Os que sofrem todas as agruras e vicissitudes da vida, são estes nossas janelas, frestas que se entreabrem para o Paraiso. Atentem para eles, são mais que nosso próximo, são os arautos que Deus embaralhou em meio à multidão. "Quem fizer o bem a um desses pequeninos a Mim o fará." Disse-nos Jesus.

O rei que não andar a pé pelas ruas, jamais ficará sabendo
o que pensa e sofre o povo de seu reino.

A filosofia não sobe aos céus sem antes dele ter descido.

* Ao final desta frases, deparei-me com um vídeo, cuja jovem palestrante falava exatamente sobre a HUMILDADE, e não pude deixar de incluir um texto a respeito.

É com grande alegria que ainda no inicio deste ano trago uma reflexão que considero extremamente importante, a HUMILDADE.
Sei que você que está me lendo agora tem o desejo de se tornar uma pessoa melhor e isso passa de imediato pelo exercício da humildade.
Muitas vezes o nosso ego quer nos pregar peças nos dizendo internamente que somos muito bons, que somos muito virtuosos, que somos melhores do que os outros etc. etc.
Nessa hora a gente precisa ser mais humilde reconhecer o quanto erramos, o quanto falhamos e quanto ainda temos que aprender e melhorar a cada dia.
O que me inspirou a escrever esse texto foi um vídeo  que assisti.  Um breve vídeo que traz o depoimento de vida da jovem pernambucana Flaira Ferro, cantora e dançarina de Pernambuco.
Compartilho abaixo o vídeo para que você assista e também a transcrição da parte que achei mais impactante e profunda nas suas palavras.
Ela diz: “Isso foi muito arrebatador para mim, porque eu vi que através da arte eu estava acessando as pessoas num lugar um pouco mais profundo do que já tinha vivido até então.
E isso passou a fazer muito mais sentido para mim enquanto artista. A motivação agora não era mais ser aplaudida, nem o deslumbramento e a ilusão que o palco traz, mas sim a conexão de fato com a minha verdade, que automaticamente vai ressoando com a verdade das outras pessoas que buscam uma escuta verdadeira.
E desse processo, o que ainda é muito novo pra mim, tirei algumas conclusões e uma delas é a de que eu encontrei na minha fragilidade a minha força, descobri que a tristeza e as dores, elas podem ser otimizadas, porque elas são verdadeiros antídotos para a hipocrisia. Descobri que querer mudar é viver constantemente num exercício de humildade porque a gente vive num mundo que se estimula a competição, o individualismo, a vaidade.
Então querer mudar é ir contra isso diariamente e contra as nossas próprias sombras.
E percebi que ter consciência das nossas sombras é ter liberdade de escolha para conduzir os pensamentos, para conduzir as relações ao nosso redor.
Hoje, para mim, faz muito mais sentido, pensar numa arte que tenha um caminho altruísta, inclusivo e que é a ideia daquela frase: ‘sozinho a gente vai mais rápido, em grupo a gente vai mais longe. ’
E é esse longe que hoje me interessa enquanto artista e acredito que através da arte a gente pode sim convidar mais pessoas a repensarem como que tem conduzido as suas escolhas até aqui. Pra gente se despir, de fato, de todas as máscaras que a vida vai colocando e que a gente vai absorvendo. E se conectar, de fato, com o que a gente é de verdade.
Eu quero me curar de mim…
[Flaira Ferro]
In blog Para Além do Agora de Isaias Costa
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A cantora da bela canção "Me curar de mim" é mais uma palestrante do TEDxUFPE2016. Com uma voz encantadora e suave, consegue conquistar a todos. Mas o seu lado artístico não se limita à música. Também é dançarina, tendo dançado em países da América Latina, Europa, América do Norte e Ásia.
O interesse pela arte como ferramenta de aprimoramento humano e autoconhecimento sempre foram princípios condutores nas criações da artista. Em 2015 lançou o disco Cordões Umbilicais, seu primeiro projeto de música autoral como cantora e compositora.

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Sinopse da Palestra de Flaira Ferro
M. Martins Santos
São palavras lindíssimas e muito verdadeiras. O título dessa música que ela cantou é a mais pura verdade: EU QUERO ME CURAR DE MIM.
Esse “quero” ela faz soar bem forte e para valer! É preciso antes de tudo querer mudar, querer ser melhor... E querer implica estar motivado a se curar de si mesmo. Não deve existir o condicional “gostaria, e sim o presente (dado a si mesmo) “quero”, que leva para o “vou,” a saída da inércia e da zona de conforto.
Quanto mais o tempo passa e eu vou amadurecendo e, sobretudo envelhecendo, mais fica evidente na vida que não são as palavras que arrumamos como em um arranjo floral, que podem contribuir e ajudar na mudança  de si mesmo e das outras pessoas, mas a inequívoca  verdade contida dentro delas como boas sementes que se lançadas a bom solo irão germinar.
Venho transitando pelos caminhos da literatura procurando cada vez mais deixando meus rastros evidentes e bem marcados, o mais visível que posso no que faço, digo ou escrevo.  
A vida é muito breve, pode parecer lenta como um século quando muito jovem, mas breve como uma hora no ingresso à maturidade e envelhecimento. Não me importo em desnudar-me, falar que a coragem não se confunde com temeridade. Que tenho e todos temos nossos medos pela reconhecida fragilidade de nossas defesas físicas, as falhas que podem nos surpreender como um painel de instrumentos não dominado... Erros de cálculo de nosso “teto de voo” as panes a que estamos sujeitos.

Mas o legitimamente importante é aquele quero que a menina Flaira lá atrás, se dispôs a me indicar com eficiência e eficácia... A mim que tenho praticamente três idades dela. E daí? Não é a idade que está se contando e sim a verdade contida nas palavras vivas. Sua verdade malha em cada um dos defeitos como em ferros saídos da forja, modulando-os antes que esfriem, se congelem, não sendo mais possível fazer deles instrumentos úteis. Faz-nos ver que qualquer tempo é tempo e o melhor é o agora. Precisamos ouvir as verdades que escondemos de nós mesmos para nos tornar pessoas melhores.

É uma alegria poder ver que leitores de meus escritos sentem-se interessados por aquilo que escrevo, e pelo exato motivo do que disse Flaira: “porque não visto máscaras, não incorporo um personagem”. Basta-me saber que sou um ser humano que já errou muito, que caí e me machuquei, mas sempre houve interveniência divina, da qual não me envergonho em dizer que implorei para levantar-me de novo e de novo e vencer a batalha. Sempre vencemos uma batalha, das muitas que compõem a guerra da vida.

Que essa reflexão brilhante de Flaira Ferro, não seja em vão e venha nos ajudar nos momentos em que precisamos nos curar de nós mesmos. Das ‘sombras’ a que ela se refere, e que precisam ser iluminadas pela luz da nossa consciência e de uma maior e acima de nós.

Tenhamos  esse desejo de ser uma pessoa a caminho de muitos acertos e cada vez menos erros, dia a dia e com firme determinação a prosseguir nessa rota com humildade sincera, com Amor no coração e no dizer da palestrante “com o desejo de ser altruísta e inclusivo”!

Compartilho um breve áudio inspirado na linda poesia musicada por ela a qual canta em ‘capela’ - o que valoriza sua voz limpa e afinadíssima - que vale por outra palestra à parte, tal riqueza de ensinamentos sobre a vida [como se ela, menina, tivesse cem anos] sobre querer nos ‘curar’ de nos mesmos. Sermos a partir de hoje melhores que ontem, e amanhã melhores que hoje.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

IL CONDOR (letra e video) com GIGLIOLA CINQUETTI, vídeo MOACIR SILVEIRA

Letra da canção Il Condor [O Condor] em italiano na voz de Gigliola Cinquetti


Il Condor

L'amore come un condor scenderà
il mio cuor colpirà
poi se ne andrà.

La luna nel deserto fiorirà
tu verrai solo un bacio e poi
mi lascerai.

Chissà domani dove andrai
che farai?
Mi penserai?

Lo so, tu non ti fermi mai
ma pensa che io non vivrei
come potrei?

Un fiore dal dolore nascerà
il mio cuor pungerà
poi morirà.

L'amore come un condor volerà
fin lassù e così mai più
ritornerà.

Lo so, tu non ti fermi mai
ma pensa che io non vivrei
come potrei?

O Condor

O amor como um condor descerá
meu coração ferirá
e irá embora.

A lua no deserto surgirá
você virá, somente um beijo e depois
me deixará.

Quem sabe amanhã onde estará
o que fará?
Pensará em mim?

Eu sei que você não para nunca
e pensa que eu não viveria,
como poderia?

Uma flor, da dor nascerá
meu coração afligirá
depois morrerá.

O amor como um condor voará
até o infinito e assim nunca mais
retornará.

Eu sei que você não para nunca
e pensa que eu não viveria,
como poderia?

https://youtu.be/p9xHdUtblC0

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

MARIO "MENINO" QUINTANA E O POEMINHO (sic) DO CONTRA




MÁRIO “MENINO” QUINTANA, E O POEMINHO (sic) DO CONTRA



Todos que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho

*

Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."
(Mário Quintana)


Tentou entrar para a Academia, mas por quatro vezes foi derrotado.
A imortalidade veio da admiração dos leitores.

*
"Mesmo revisitando formas clássicas como o soneto, Quintana
manteve-se avesso aos ornamentos fúteis, seus textos têm uma vivacidade, humor e um tom coloquial mágico". 

[Astier Basílio - Jornal da Paraíba, 22-10-06]. 


Quintana por ele mesmo...


"Idades só há duas: ou se está vivo ou morto.
Neste último caso é idade demais,
pois foi-nos prometida a Eternidade."


"Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.

Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu...


"Dizem que sou modesto.
Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho
que nunca escrevi algo à minha altura."


Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de autosuperação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras". 

Texto escrito pelo poeta para a revista Isto É, de 14-11-1984.

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Discreto quanto à sua vida pessoal, Mario Quintana teve duas grande paixões platônicas assumidas em versos: Cecília Meireles e Bruna Lombardi

"A amizade é um amor que nunca morre", disse Quintana.

Ele e Bruna, roteirista de filmes e poeta, se conheceram nos anos 80, durante uma Feira do Livro em Porto Alegre e se tornaram muito amigos. Ela foi diversas vezes apontada como a musa do poeta. 
Bruna, na sua última vinda ao R.G.Sul, declarou: "A nossa amizade foi baseada nisso: uma pequena e mútua companhia"
Quando perguntada sobre quais lembranças tinha de Mario Quintana, Bruna respondeu: " Passeando com ele pelas ruas de Porto Alegre, tomando café, olhando as pessoas e imaginando o que elas pensavam ou o que faziam."

"(...) Poesia é insatisfação, um anseio de autosuperação.
Um poeta satisfeito não satisfaz."


Abaixo, o último poema escrito por Bruna Lombardi
para Mario Quintana.



Onde quer que você
esteja
veja que agora
em algum lugar alguém
chora
porque você foi
embora.
Eu sei que você
continua
por aí nesse universo
achando rima pra verso
com humor e
melancolia
Perplexo feito criança
diante de cada mistério
sua sutil sabedoria
nota coisas tão
pequenas
que outro não notaria
E aqueles que ficaram
por aqui, nessa
passagem,
sentem no céu
esse anjo
que você sempre escondia
e desejam boa viagem.


[Bruna Lombardi]

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O CRIME DA JOVEM RUIVA




O CRIME DA JOVEM RUIVA
Mauro Martins Santos


LUZ

Este texto é um retorno luminoso semelhante à telha de vidro da "Felicidade" de Hermann Hesse quando um inocente menino.
No retorno veloz ao passado, um ser alado sobrevoa o mar de minha vida, e por percorrer o caminho luminoso deixa sua antítese trevosa e sombria, levando a perder-me nos meandros das árvores falantes. Pois a solidão é imensa no oceano do pensamento e os seres mais próximos dos semoventes são as amigas do reino vegetal. O pensamento mais veloz que a tudo que subsiste, vêm de confins ignorados a habitar a carne com as dores e feridas, lançadas pelos carcereiros de minha amada Esperança, pelos carrascos encapuzados, preparados a levá-la á morte no patíbulo erigido fora das muralhas da razão e de todo entendimento.
Só não o fizeram ainda à bela jovem feita de sonhos reais e irreais como a dança das luzes espectrais do sol da meia noite na aurora boreal, por dúvida de qual forma levarão para sempre a chama vital que vitaliza as almas. Lá estão o cepo e o machado, o cesto para a cabeça, a calha para o sangue, lá está a corda exageradamente grossa e nós tão díspares para tão delicado pescoço - bastaria pequena torção . O amontoado de enorme caieira e o madeiro no centro para a queima da bruxa dos cabelos rubros: tu Esperança, cujo crime maior para os inquisidores são teus longos devaneios em silêncio absoluto à margem do cristalino regato.

Os inquisidores têm dúvidas de qual meio o povo que se acotovela irá apreciar mais. Afinal a Inquisição precisa ganhar apoiadores, precisam gostar do que veem - antegozar ao êxtase. Não basta trazer a mulher nua, não basta ser uma mulher, tem que ser jovem, pele macia, não basta tudo isso sem que ela seja surpreendentemente linda e encimando ser ruiva de olhos verdes ou azuis. Afinal os expectadores merecem um espetáculo de primeira ordem.  Há que ser impactante, rufar de tambores, choros e gritos e rogos femininos.
Uma feira sempre é montada para vender “lembranças” do "Dia da Queima de Mais Uma Bruxa". Mechas de cabelos vermelhos dentro de pequenos frascos eram vendidas como água no deserto. Fora das emanações do fanatismo, sadismo, antegozos, mórbidos prazeres - em domínio da razão - via-se a empulhação, a tapeação: pelos de animais, cabelos das esposas megeras tingidos - estas megeras eram as mais obsessivas e tresloucadas para a grande apoteose: coroada de ódio da beleza do corpo, da juventude, do rosto perfeito, do desejo de seus maridos, e prazer gozado lentamente ao ver um corpo queimando, um rosto se derretendo e virando cinzas ao fogaréu...

*

O pensamento não podia se perder ou ganhar asas e acabava por deitar raízes na chaga da qual se nutria - ao bel prazer - em cor e domínio: a Inquisição. A chaga que impingiam se alastrava ao vulgo, respiravam com delicioso prazer o cheiro de carne humana assada, e ao seu ritmo todos ingressavam no estertor do prazer mórbido.
Não é um dado falseado no momento, mas, pontuados acontecimento de contornos precisos para se conquistar seguidores, revoltados, fanáticos e introduzi-los nos currais do interesse da bipolarização do poder, que lá adiante era um só e único empoderamento, mas com ascensão de um, sobre o outro secular. Difusos personagens escapam aos exames seguidos de certas perguntas; rejeitam os nomes gravados na História, e assim ganham mais ênfase para alastrarem-se até o último limite do corpo e íntimo dos pusilânimes de sempre.

O SONHO

O momento em que pensava sobre isso, era bombeado e alimentado por seu subconsciente ativo durante o sono. Era, contudo um arquivo pálido perdido além de portas e janelas, torres e agulhas apontando para o céu e horizontes. Talvez muitas coisas se  relacionassem com ela: memórias de um cão que uivava ao longe com fome de carne, sinos tangendo na catedral escura de linhas góticas, massa feita de olhos de gárgulas, baços, de pessoas de sorrisos desdentados. Os dedos em garras no breu da noite... Depois tudo desce como um ser alado e pousa manso em certa manhã de sol.
O sol estava ali e produzindo energia para as forças de seu corpo esbelto e ereto, e sua altivez de mulher imensamente bela, cabelos longos com a cor do cobre puro, marchetado por ciganos romenos. Estava a minutos ou horas, quem sabe anos, menosprezada, destituída da aura das coisas deixadas num canto, como uma fada ou anjo tolhida de suas asas, sempre prontas e confiáveis.
Se aproximássemos de seu quarto o ouvido, como o fazemos com uma concha acústica ouviríamos dialetos, mas de encantos: vozes que remoem as tardes em sua longa solidão... Festa em júbilo de retorno à vida, que estava lançada ao profundo túnel do tempo regresso; vidas perdidas no vórtice de um revirar da ampulheta; papeis em branco dando lugar a pergaminhos amarelados e cobertos de iluminuras. Destaque para uma mulher ruiva, alta e bonita, amarrada ao cadafalso, assistida por uma corte real em primeira fila e um clero, ambos evanescentes.  
O linho grosseiro e áspero foi-lhe arrancado para exibir toda a sua nudez em que mais se destacava à alvura marmórea de seu corpo, o vermelho-ruivo dos cabelos.  Em sua visão fantástica tinha clara consciência que o prolator de capuz a escurecer o rosto sentenciava; “aquela mulher como uma perigosa bruxa - como se via por seus cabelos da cor do fogo do inferno - costumeiramente de olhos perdidos endemoninhados e balbuciando em voz baixa o dialeto das bruxas”.



Este pronunciamento - lembrando-se da sentença - era seu ignóbil crime: “estar sempre absorta e perdida em seus pensamentos, montando versos e estrofes, rebuscando rimas e com um estilete carvoejado grafando-as em um pergaminho”... Pensava em seu noivo que fora tomado por um torvelinho forte e veloz, se elevando para um ponto que ela sabia ser o caminho-futuro. Assim ia para as margens do ribeirinho, eivada de emoções na mais cristalina solidão.

FIM

Assim... Você deverá prender os brincos com os quais ele a presenteara. Ponha uma rosa vermelha nos cabelos que ele sempre toma por sedução.   Rebusque em suas gavetas que ficaram cheias de lembranças. Cesse seus pensamentos do passado, isto agora nada mais significa além de uma vivência a mais para sua alma.  Ache no fundo de uma das gavetas o Anel Mágico da Redenção. Ele tem agora um brilho forte, diferente. Olhe profundamente para a pedra ônix, lá no fundo de sua cor negra verá um ponto de luz gradativamente aumentando, um rosto surge, um lugar onde reside seu futuro lá esta ele a te esperar.
E a estação do ano, que estiver vivenciando - será uma eterna e florida Primavera - junto às janelas e vitrais espalhará seu brilho e aura com a mesma fidelidade que faz há séculos. E sempre fará...


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A DISTÂNCIA ESCONDE VERDADES E MENTIRAS





















A DISTÂNCIA ESCONDE VERDADES E MENTIRAS



O que não se vê o coração não sente...
(...) “Morrer é só não ser mais visto”
A distância esconde verdades e mentiras.
Se tu achas que ela esconde as verdades 
é porque de verdade não acreditas 
e o descrédito em ti se instala
e passas a achar que mentiras 
são verdades, que supões ser a real 
o que te faz desacreditar 
de seu maior amor.

Pense... Longe é estar distante do que, de onde?
Estar perto é o que é realmente a presença física.
Mas o sentimento não é. 
É uma presunção, uma abstração...
Pensou Paul Valèry:
“Que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?”
A distância cria-nos o mais maravilhoso sentimento
 (na acepção da palavra)
 - e só existente na língua portuguesa: a Saudade.
 A saudade potencializa ao infinito o encontro com quem amamos,

Essa indescritivel paixão desencadeia outros e outros  sentimentos.
Falamos de humanos... 
Mas, vi um vídeo em que uma cadelinhaao ver sua jovem dona, 
voltar da longa viagem, desencadeia uma alegria
tão incontida, uiva, late, baba, lambe, rola, pula...E desmaia “de pura emoção”.
A saudade abate até os animais não humanos.
Nela giram e gravitam imagens as mais internalizadas,
colecionadas no grande vitral da Vida, 
muitas imagens se descolam e deixam buracos 
azinabrados de ausência - outras morrem conosco.


A saudade, tão forte sentimento,
poderia ser usado por uma pessoa de má índole e dissuadida,
para mascarar baixas paixões como a traição,
a infidelidade e outras locupletações ignóbeis?
Sim. Porque quem ama confia, 
quem confia está sempre desarmado de espírito.

Mas há a poderosa: “verdade verdadeira” ou verdade real,
Esse sentimento abstrato duplicado, usado até juridicamente,
onde não pode haver erro, painel de controle da nave da vida.
Sentimento que encima aos pontos mais elevados da moral,
da razão e de todos os sentimentos mais nobres humanos.
Sentimento que nos faz ver de sua altura tudo mais belo,
Mais autêntico, legítimo, claro e mais longe no horizonte da alma.

Porém, toda ascensão tem a jornada difícil da subida,
e quanto mais tarde a buscamos, mais penosa se nos torna 
o caminho que é ingreme e coalhado de pedras. 
São os anos que carregamos na mochila que vão pesando como chumbo. 
O cansaço, as dores a fraqueza,vão nos minando a busca. 
Todas as buscas.
 Mas mesmo assim vale a pena todo o sacrifício
Salvamos nosso amor, nossas amizades, a família, a vida,
nossas crenças o que nos é sagrado,
nosso Deus  Criador!