quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

MARIO "MENINO" QUINTANA E O POEMINHO (sic) DO CONTRA




MÁRIO “MENINO” QUINTANA, E O POEMINHO (sic) DO CONTRA



Todos que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho

*

Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."
(Mário Quintana)


Tentou entrar para a Academia, mas por quatro vezes foi derrotado.
A imortalidade veio da admiração dos leitores.

*
"Mesmo revisitando formas clássicas como o soneto, Quintana
manteve-se avesso aos ornamentos fúteis, seus textos têm uma vivacidade, humor e um tom coloquial mágico". 

[Astier Basílio - Jornal da Paraíba, 22-10-06]. 


Quintana por ele mesmo...


"Idades só há duas: ou se está vivo ou morto.
Neste último caso é idade demais,
pois foi-nos prometida a Eternidade."


"Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.

Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu...


"Dizem que sou modesto.
Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho
que nunca escrevi algo à minha altura."


Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de autosuperação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras". 

Texto escrito pelo poeta para a revista Isto É, de 14-11-1984.

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Discreto quanto à sua vida pessoal, Mario Quintana teve duas grande paixões platônicas assumidas em versos: Cecília Meireles e Bruna Lombardi

"A amizade é um amor que nunca morre", disse Quintana.

Ele e Bruna, roteirista de filmes e poeta, se conheceram nos anos 80, durante uma Feira do Livro em Porto Alegre e se tornaram muito amigos. Ela foi diversas vezes apontada como a musa do poeta. 
Bruna, na sua última vinda ao R.G.Sul, declarou: "A nossa amizade foi baseada nisso: uma pequena e mútua companhia"
Quando perguntada sobre quais lembranças tinha de Mario Quintana, Bruna respondeu: " Passeando com ele pelas ruas de Porto Alegre, tomando café, olhando as pessoas e imaginando o que elas pensavam ou o que faziam."

"(...) Poesia é insatisfação, um anseio de autosuperação.
Um poeta satisfeito não satisfaz."


Abaixo, o último poema escrito por Bruna Lombardi
para Mario Quintana.



Onde quer que você
esteja
veja que agora
em algum lugar alguém
chora
porque você foi
embora.
Eu sei que você
continua
por aí nesse universo
achando rima pra verso
com humor e
melancolia
Perplexo feito criança
diante de cada mistério
sua sutil sabedoria
nota coisas tão
pequenas
que outro não notaria
E aqueles que ficaram
por aqui, nessa
passagem,
sentem no céu
esse anjo
que você sempre escondia
e desejam boa viagem.


[Bruna Lombardi]

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