MÁRIO “MENINO” QUINTANA, E O
POEMINHO (sic) DO CONTRA
Todos que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho
*
Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."
(Mário Quintana)
Tentou
entrar para a Academia, mas por quatro vezes foi derrotado.
A
imortalidade veio da admiração dos leitores.
*
"Mesmo
revisitando formas clássicas como o soneto, Quintana
manteve-se avesso
aos ornamentos fúteis, seus textos têm uma vivacidade, humor e um
tom coloquial mágico".
[Astier
Basílio - Jornal da Paraíba, 22-10-06].
Quintana por ele mesmo...
"Idades só há duas: ou se está vivo ou morto.
Neste último caso é idade demais,
pois foi-nos prometida a Eternidade."
"Nasci
em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me
aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que
toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos
meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse
uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai!
Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste
último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no
rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que
me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia
descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o
mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu...
"Dizem que sou
modesto.
Pelo contrário, sou tão
orgulhoso que acho
que nunca escrevi algo à
minha altura."
Prefiro
citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário,
sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia
é insatisfação, um anseio de autosuperação. Um poeta satisfeito não satisfaz.
Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque
sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os
outros?
Exatamente
por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da
poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez
concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante
cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de
Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a
luta amorosa com as palavras".
Texto
escrito pelo poeta para a revista Isto É, de 14-11-1984.
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Discreto
quanto à sua vida pessoal, Mario Quintana teve duas grande paixões platônicas
assumidas em versos: Cecília Meireles e Bruna Lombardi
"A amizade é um
amor que nunca morre", disse Quintana.
Ele e
Bruna, roteirista de filmes e poeta, se conheceram nos anos 80, durante uma
Feira do Livro em Porto Alegre e se tornaram muito amigos. Ela foi diversas
vezes apontada como a musa do poeta.
Bruna, na
sua última vinda ao R.G.Sul, declarou: "A nossa amizade foi baseada
nisso: uma pequena e mútua companhia".
Quando
perguntada sobre quais lembranças tinha de Mario Quintana, Bruna respondeu:
" Passeando com ele pelas ruas de Porto Alegre, tomando café,
olhando as pessoas e imaginando o que elas pensavam ou o que faziam."
"(...) Poesia é
insatisfação, um anseio de autosuperação.
Um poeta satisfeito não
satisfaz."
Abaixo,
o último poema escrito por Bruna Lombardi
para
Mario Quintana.
Onde quer que você
esteja
veja que agora
em algum lugar alguém
chora
porque você foi
embora.
Eu sei que você
continua
por aí nesse universo
achando rima pra verso
com humor e
melancolia
Perplexo feito criança
diante de cada mistério
sua sutil sabedoria
nota coisas tão
pequenas
que outro não notaria
E aqueles que ficaram
por aqui, nessa
passagem,
sentem no céu
esse anjo
que você sempre escondia
e desejam boa viagem.
[Bruna
Lombardi]
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