domingo, 10 de setembro de 2017

PEQUENO VOO POR UMA HISTÓRIA EMOCIONANTE - A CARTA DO CACIQUE SEATTLE





Pequeno voo por uma História emocionante



A carta do cacique Seattle

Em 1852, o governo dos Estados Unidos
propôs compraras terras das tribos indígenas
Suquamish e Duwamish,
localizadas na região de Puget Sound,
no atual estadode Washington.
O objetivo era dar prosseguimento à ocupação do
Território norte-americano com populações estrangeiras
que chegavam ao país.
O governo pretendia deslocar as duas tribos para uma
reserva indígena, oferecendo-lhes algumas garantias
e compensações.
Em 10 de janeiro de 1854, Isaac Stevens,
Governador doTerritório de Washington,
esteve em Puget Sound para reforçar a oferta
de compra das terras.


Naquele dia, o Cacique Seattle, como era conhecido
o chefe das tribos Suquamish e Duwamish, proferiu
um histórico e emocionante discurso
[este que se transformou em carta e documento]
em que destacou a transitoriedade da existência do homem
frente a importância da terra.
O homem passa, as terras ficam para a descendência.
Sem ela nossos descendentes morrerão.
A Terra não pertence ao homem.
O homem pertence à terra.

[M. Martins Santos]

Carta do cacique Seattle,
da tribo Suquamish, ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce).




Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou  - que na verdade proferiu uma oração (discurso) cuja anotação dos assessores do governador do Estado de Washington foi apresentada ao presidente em forma de carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios, para acomodar ricos estrangeiros que aportavam nos Estados Unidos da América.
 
*

Uma emoção legítima e profunda me acomete cada vez que a leio, e já a li bem mais que uma centena de vezes!  Levemos em conta, que o próprio povo consciente  dos EUA o enaltecem e veneram suas palavras, de uma lucidez e inteligência como se estivesse iluminado pelo Grande Espírito, o Deus de todos, como o cacique mesmo afirma. Há estátuas espalhadas por museus e ao ar livre e a cidade de Seattle no Estado de Washington recebe seu nome.

“É simplesmente o modo como os nativos norte-americanos, e os do resto da América, pensam.  São mais ligados e agradecidos à Natureza  do que qualquer um de nós.  ”        

 [Blog Kuruneko by Yasmin]



Concordo em gênero e número com o comentário acima, nem em mil anos teríamos essa consciência ancestral, quando aqui chegamos os nativos eram donos de toda a América, de tudo que estava acima e abaixo da terra da água e do ar. Pensavam com os sentidos. A terra era sua mãe, pai, criador, mantenedora das vidas. O europeu aqui chegando começaram a escrever a história com sangue e seu centro de concentração de riquezas eram insaciáveis como continua sendo, cada vez mais. Os nativos tinham o senso da parcimoniosidade, só o que precisavam e o que lhes bastavam. Eis a razão de desejar que cheguem a mais leitores e multiplicadores desta perfeita lição.





Era, pois um indígena, um “selvagem” no entender da época. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade e vem eivado de verdade pura.

A carta:


O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.



Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.




De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.


Palavras do Cacique da Tribo Suquamish do Estado de Washington transformada em carta e escrita em 1855,atualíssimas como se houvessem sido ditas hoje. Aliás, sempre precisas serem ditas repetidamente, para podermos ter futuro.

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