quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A LENDA DO NEGRINHO DO PASTOREIO - Folclore Rio Grande do Sul - BR


Negrinho do Pastoreio - Gineteando o baio nos céus
Aldo Locatelli / Palácio Piratini, Poa, RS


A "lenda" do Negrinho do Pastoreio
Folclore- Rio Grande do Sul- Brasil.

Espécie de anjo bom dos pampas que ajuda as pessoas a encontrarem as coisas perdidas.
É crença que tenha sido ele, no passado, um escravo guri negrinho, que morreu por maus tratos. A ele como oferendas se oferecem toquinhos (como reza a lenda) de velas e pequenos pedaços de fumo (de corda) - para que ele ajude a encontrar animal bagual, ou demais solípedes e até coisas de estimação perdidas.
A "lenda" do Negrinho do Pastoreio, cuja autoria é atribuída ao pelotense (RS) João Simões Lopes Neto, adquiriu, com o tempo, características de "mito". Contudo a lenda apresenta diversas variantes como soe às lendas do folclore brasileiro.  

Conforme acentua o antropólogo e mitólogo Rogério Rosa, corrobora que há diferentes versões dessa narrativa, como, por exemplo, as de “O negrinho do pastoreio”, “Negrito del pastoreo” e “el Quemadito” (ROSA,R. R. G. ) “. A relação afro-ameríndia entre o Negrinho do Pastoreio e o Saci Pererê na mitologia”; Antares: Letras e Humanidades. vol.5, n°10, julho-dez, 2013.

Também correntes, as versões de Cezimbra Jacques e a já referida de J. Simões Lopes Neto, grande nativista e vivente das mais profundas tradições rio-grandenses. Mas, em ambas o negrinho é um pobre escravo, sem eira nem beira, solito sem ninguém por si, que de um cruel estancieiro sofreu  constantes maus tratos, terminando a narrativa de crueldades por colocar o guri em um formigueiro, até que as formigas o matassem. Contudo, o negrinho, arribando-se dos ferimentos e do lugar amaldiçoado, ergue-se do formigueiro milagrosamente e segue ascendendo-se ao céu.

A Negrinho do Pastoreio são envidadas rezas e pedidos dos crentes na história. É conhecido também por outros nomes similares e acastelhanados: Negrito del Pastorejo, Crioulinho do Pastoreio, Crioulo do Pastorejo, Crioulinho del Pastorejo

Esta lenda, genuinamente rio-grandense, tem inspirado ao longo da campanha gaúcha, perpassando pajadores, cantadores nativistas, regionalistas, cultuadores das lides pampeanas e forrando de inspiração belíssimas páginas não só do cancioneiro regionalista, mas da literatura gauchesca.
É interessante registrar lendas e mitos para aguçar nossa percepção quanto às múltiplas formas que uma narrativa vai tomando de autor para autor.
Mesmo oriunda de uma determinada região do país, em suas localidades seja pela distância uma das outras, dificuldade das comunidades se encontrarem, sobremodo retrocedendo-se ao passado, vão os mitos sofrendo mutações, caminhando cada vez mais para o dramático o sofrido até a santificação de um personagem mitológico.
Contudo não cabe aos antropologistas, historiadores, contistas, mitólogos, teólogos, folcloristas e escritores em geral, provar isto ou aquilo, lhes cabe retratar, contar, recontar, poetizar, juntar partes do encontrável, produzir em performances ou obras de arte o folclore; teólogos: levantar dados para a beatificação e posterior canonização; aos escritores perquirir os possíveis caminhos para retratar a realidade ou aprofundar-se na imaginação ficcional. 
Raras vezes aqueles, caminham ao contrário, tornando o personagem um pândego, devasso, descumpridor, embusteiro. Casos há que existe uma reviravolta como o caso, por exemplo, de uma invenção moderna: o aparelho de televisão. Não há um único, inventor isolado, mas uma série de descobrimentos, pesquisas, peças, equipamentos, sensores, circuitos, até a modernização dos circuitos impressos e toda uma rede de aparatos que a envolvem. Neste caso parte-se de uma ideia, perquire-se um caminho e atingem o objeto das pesquisas experimentos, dando-o como pronto. Os acertos finais são filigranas.
No conto mitológico ou lendário, não. Cada conto aumenta um ponto e cada autor tem sua versão, cada lugarejo conta a história com acréscimo, desbancado para o fantástico ou sobrenatural. Pior, muitos alegam terem visto a “coisa” de um jeito ou de outro. Sempre à noite e no escuro. A instalação da energia elétrica aos mais longínquos rincões, exorcizou a maioria dos fantasmas e monstrinhos, relegando-os ao folclore.
Assim as lendas para uns, pura verdade, a outros parece que sim, e uma grande totalidade "pero si, pero no"; acende uma vela para este conto e para o outro também. Assim, o autor, muitas vezes de sua exclusiva criação: o "causo" desgruda-se das páginas de seu livro e vai até a mente das pessoas e se transforma num fato verdadeiro, com visões e tudo...
Muito nos lembram dos livretos de * “cordéis”, onde muitos juram: ser verdade o que leram nos livretos comprados nas feiras. Ou para ilustrar mais - Sherlock Holmes que antropofagiou Sir Conan Doile, e passou a existir de forma autônoma, independente. E há quem acredite piamente que Holmes existiu. Para isso há o domicílio do detetive à Rua Baker Street, com os seus objetos pessoais. Sendo um dos pontos turísticos (um museu) mais visitados anualmente de Londres, e quanto mais "fog" para fazer "clima" melhor. 

***

* Cordéis - Livretos pequenos de papel barato, capa da mesma folha, quase sempre artesanais, com impressão de capa em xilogravura de madeira. São vendidos em barracas de feira, junto a outros produtos, pendurados com presilhas de roupa em um varal de cordel (cordinha) ou barbante. Daí seu nome cordel. O poeta de cordel chama-se cordelista. As histórias são na maioria simplórias, partindo do ingênuo até literatura de dupla interpretação ou sentido, que recai no erótico-sensual. Outras são dos vaqueanos, cangaceiros, heróis do sertão, milagreiros etc. Alguns autores poetas-cordelistas, já assumiram o gênero e emprestam poesias bem concatenadas, com rimas e métricas elaboradas feitas em gráfica. Mas, buscam conservar a feição tradicional em formato feição e tamanho


Estimado amigo poeta, que belíssima homenagem,
ao nosso 'Negrinho do Pastoreio'
encantada com o teu maravilhoso texto,
parabéns, bjs Maria Iraci leal (MIL.)

Coordenadora


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