A ARTE NOS FASCINA
Desenho infantil, criança de 8 anos, e colorido pela mãe artista
Desenho -estudo- de John W. Watherhouse
Bico de pena e aquarela -monocromática
de M.Martins Santos
Desenho "realidade fantástica"
Arte-Foto - vários disparos
Arte-foto P&B (sépia)
Escultura em abóbora (Pinterest)
Mauro
Martins Santos
Da Academia
Guaçuana de Letras (AGL)
A arte pura é fascinante! Ela nos faz
flutuar ou mais: - como pássaros encantados a flanar por universos imaginários
- no sentido de que cada beleza,
cada descoberta se apr esenta cheia de
possibilidades infindas; é o extravasar do ser, a sensibilidade, o toque, a
busca, a sensação de que o ser humano é muito mais do que o próprio existir. Há
a criação explícita em potência, cessa o tempo; sem passado, presente, futuro...
Pura essência de um momento integral. Há na arte a licença de Deus para que o
artista congele sua obra no exato instante de sua criação.
Podemos vislumbrar uma luminosidade
por frestas de nuvens noturnas, apenas um pequeno fulgor; mas muito além dessa
tênue luz, existe uma gigantesca estrela. Um gerador infindável de energia.
É o gênio da criatividade e da
imaginação exercendo sua verdadeira razão de se estar vivo e
pensante no mundo.
Deveria nos bastar simplesmente
flutuar, propalar e deixar expressar a leveza do ser cotidianamente, mas há
algo mais além da argamassa das aparências, através das emanações puramente
mentais. Se assim não fosse seria sempre o exato, óbvio ou lógico. Não seria
arte, mas ciência.
Independente do tema, estilo ou
técnica tratados, notamos que na produção da arte, mais especificamente na
pintura, há uma preocupação com a beleza poética, embutida na representação
buscada além da realidade visível. Neste texto não falaremos especificamente das emoções buscadas por outros fatores impactantes como:
horror, revolta, espiritualidade, compaixão, fé, etc. Embora o escopo dentre
todos os temas sejam o mesmo. (Exemplo, os Cristos do pintor alemão Grünewald,
Matthias), que causam pelas aparências meio putrefatas, um misto de horror, asco,
compaixão, piedade, fé... Aliás era isto que o autor buscou...
No geral o verdadeiro artista, aquele
que busca cooptar os visitantes, trabalha com a matéria das emoções da alma e a
espiritualidade. Harmonia e equilíbrio entre os elementos que compõem o quadro.
Resultado disto serão imagens ornamentais, cheias de pormenores e detalhes,
cores luminosas que dão sensibilidade estética às pinturas onde o romance -
mesmo um rudimentar e hesitante erotismo - unidos e disfarçados por uma certa
inocência, também por isso, na arte, têm lugar de destaque.
Os nus femininos eram sempre rodeados
de anjinhos, para “quebrar” o impacto da nudez explicita das personagens
figurativas.
Mas a gênese da arte empreende
atividades para causar impacto; o inusitado, e nisto em primeiro estágio é
esperada a reação de quem recebe a mensagem, e torna-se a paga do artista. Ao
depois a recepção e o resultado da leitura da obra, dentro das nuances de cada
arte: a repercussão.
*
Disse Fernando Pessoa: “A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta”. E não basta porque ao inquiridor da verdade contida na beleza, é a parabólica busca do Santo Graal.
Tão elaborada é a prosa poética da
lenda - como soa também a do próprio Rei Artur, que muitos - e a mente humana é
prodigiosa - creem piamente tanto na existência do Santo Graal como ainda em Artur da Távola Redonda e sua saga, e em Morgana, Avalon e suas brumas perenes.
Como toda história - mito ou lenda -
da antiguidade, buscavam-se reforçar com a disseminação em prosa, rima ou canto
dos menestréis a valoração do caráter humano, suportada nas “regras
gentis” de cavalaria, seu desejo pela aventura e a afirmação da honra, e a
onipresença da Igreja a fazer sombra sobre os castelos e reis levando a defesa
da fé aos extremos, exortando os personagens à busca da recompensa e galardão
da eterna e infinita bondade.
Assim não poderia ser de outra forma.
A lenda e às vezes a total crença no mito arthuriano era um grito de liberdade,
mas também e sobretudo, de contínuas conquistas.
Provavelmente foram esses
os principais motivos para que um mito que reporta a ritos e
regras tão distantes no passado, possa ainda seduzir e permanecer
enraizado ainda com tanta força de crença (de muitos), e profundidade, enraizado
nas mentes de muitas pessoas, sejam elas britânicas ou cidadão do
resto do mundo.
Guinevere sagra cavaleiro Sir Lancelot
Depedida - Ultimo olhar de Guinevere aos cavaleiros que vão à guerra
Guinevere em inglês, e em galês Gwenhwyfar- era consorte
do rei Arthur e personagem
de uma lenda dentro de outra lenda, no ciclo lendário da Bretanha. Tão bem
descrita, tão lindamente elaborada, os detalhes: alta, magra, olhos azuis,
cabelos longos e ruivos como o sol poente; a ponto de querermos fortemente que
ela existisse a se prolatar nos séculos. E nos contentamos em imaginá-la.
Guinevere e Lancelot
Guinevere figura na lenda de um romance com Sir Lancelot, cavaleiro da Távola Redonda, dentro da saga arthuriana.
Valerá a sedução dos personagens
desta lenda, além dos homens também para as mulheres, se versarmos para Sir
Lancelot, Galahad, Percival ou outro Cavaleiro da predileção feminina, ou o
próprio rei Artur de Camelot. Desta saga
fantástica, Guinevere, a ¹Dama de Shallot e o Castelo de Camelot, sempre me seduziram, dos quais
retirei muita inspiração para desenhos e pinturas a óleo, dos maravilhosos quadros de Sir John William Watherhouse.
Aliás, não seria exatamente essa a
missão das palavras, tanto orais quanto em maior grau as escritas, juntadas às
imagens ilustrativas, que mesmo ficcionalmente sendo, nos farão parecer
realidade?
Que não se pense que ao adentrar
as brumas de Avalon e deixando de lado terreno menos distante no tempo e no
espaço, estaríamos nos distanciando do foco da temática das artes.
Ainda dentro do campo ficcional,
cheguemos mais para perto de hoje.
Sherlock Holmes, criatura de Conan Doyle
Falemos então de Conan Doyle e de seu
Sherlock Holmes. Mais que um simples personagem, Holmes se transformou em
protagonista, tão factível quanto a criatividade de Sir Conan Doyle pode
produzir. Era o criador do famoso detetive particular, um oftalmologista
frustrado (não tinha clientes, talvez pela sua especialidade) daí um fracassado
e ocioso em seu consultório.
Para preencher seu tempo vazio Doyle
resolveu criar Sherlock Holmes e fazer umas publicações em jornal londrino. Em
resumo: o autor conseguiu fazer a imaginação dos leitores mutacionar - e
transladar Holmes da ficção para o plano da realidade - como se verdadeiro
fosse, com todas as situações e ações de seus famosos casos. E Holmes “engoliu”
o autor. O mundo falava muito de Holmes e pouco de Doyle. E hoje ainda é comum muitos não saberem quem foi Conan Doyle, mas quase todo mundo sabe quem é Sherlock Holmes.
Foi, segundo os especialistas em
literatura geral, e os especializados em contos policiais, sobretudo os
Sherlockianos, um fato inusitado e incrivelmente inédito do personagem
antropofagiar o autor, eliminando-o e passando a existir de forma autônoma. Com
estilo de vida, domicílio, objetos pessoais, locais de frequência, violinista,
boxeador, esgrimista, fumante de cachimbo e químico por vocação.
Sherlock Holmes e seu auxiliar nos casos policiais, Dr. Watson
Existe ainda a discussão sobre a
Universidade que frequentou na Inglaterra. Discutem em qual delas Holmes foi
aluno, dentre as grandes e mais antigas do Reino Unido - e reivindicando o
famoso detetive particular como aluno desta ou daquela. Há diversos clubes,
confrarias e associações voltadas para o estudo da “vida” e “modus operandi” do
celebre detetive, e, que se ocupam de verdadeiras filigranas, coletadas nos contos e novelas sherlokianos
Há visitação turística permanente ao endereço de Holmes em Londres, Baker Street, no icônico endereço -221b; a casa virou o museu “Sherlock Holmes”.
Numa típica casa vitoriana, o espaço
é pequeno, mas vale a pena conhecer! A decoração fiel dos cômodos é a
tradicional da época, e não somente se vê de perto, como supostamente viveu o
famoso detetive, mas também encontram-se alguns de seus contemporâneos, entre
eles seu arquiinimigo, Moriarty, em bonecos de cera impecáveis. Seus objetos pessoais: o violino, o
cachimbo, a lupa, o famoso boné, os tubos de ensaio, álbuns de recortes de
jornais, chinelos que Holmes usava...
E assim nos deleitamos em ter o
personagem vivo em nossos pensamentos e sonhos. O que antes somente a força
literária das palavras, movia a imaginação, não é assim também que fazemos hoje
ao sonharmos como os hodiernos contatos visuais? Neste caso, houve um percurso atualizado, chegando-nos o personagem hambientado e modernizado cenograficamente por mais de sessenta interpretes diferentes, de Holmes, nas telas do cinema, dos anos oitocentos e inicio dos novecentos, aportando no ano de 2016.
“Sem imaginação não há espanto”, disse Conan Doyle pela boca de Sherlock Holmes. Contudo, o objetivo do criador
da arte é fazer com que as pessoas pensem, e pensando imaginem e imaginando
naveguem, voem, viajem a outros “mundos” no estofo da fantasia, no encanto,
tomando assento no próprio veículo criativo que detém ante si, e atravesse os tempos.
Serve a arte também para outros
desígnios que a criação imaginativa possa fazer; protesto, denúncia,
reivindicação, revolta, incitação, vingança, ódio, discriminação, sensualidade,
erotismo, pornografia...
Da mesma forma que a arte é livre,
também os espectadores, plateia, visitantes, assistentes, ouvintes, são todos
também livres para assistirem, verem, frequentarem ou não os locais de
arte.
A arte nunca vem até nós, somos nós
que nos dirigimos a ela. A buscamos. Por isso há botões, controles, ingresso
aos recintos, ser preciso a compra de
material em áudio, visual ou impressos.
Como finalização é interessante
registrar um fato verídico, ocorrido com um dos maiores dicionaristas
brasileiros - senão o mais conhecido: Aurélio Buarque de Holanda e seu
dicionário “Aurélio” ou “Aurélião”, como o chamam popularmente. Foi o seguinte:
- Duas senhoras idosas, tanto quanto era Aurélio, escreveram-lhe uma carta (no
tempo a comunicação era, ou carta ou por telégrafo), dizendo-lhe: “Você não tem
vergonha Aurélio, um homem velho, escrevendo tantas obscenidades, palavras de
baixo calão e termos chulos, em seu dicionário!?”
- Aurélio responde às duas senhoras -
que por sinal eram suas amigas - desta única e sucinta forma: “O que vocês
estavam procurando??”
Como disse Goete em Fausto,
parodiando Hipócrates: “Ars longa, vita brevis” (latim, a frase original era em
grego) em ordem indireta mais poética: Longa é a Arte, breve é a vida.
Giz pastel - Gaivota - M. Martins Santos
¹ The Lady of Shalott é um poema ou balada vitoriana, escrito pelo inglês Alfred Tennyson (1809 - 1892). Assim como seus primeiros poemas - Sir Lancelot and Queen ... Inspirados na saga arthuriana.
¹ The Lady of Shalott é um poema ou balada vitoriana, escrito pelo inglês Alfred Tennyson (1809 - 1892). Assim como seus primeiros poemas - Sir Lancelot and Queen ... Inspirados na saga arthuriana.