Sobre o mal e sobre o bem
WAGNER WILLIAMS *
O início do século 21 parece anunciar o fim dos impedimentos. O que os séculos disfarçaram, todos os pecados que as religiões tentaram conter, os males não provados pela natureza, as práticas que os homens esconderam, tudo isso o nosso tempo vulgarizou e incentiva. A contemporaneidade representa o triunfo da liberdade sobre a noção de limite.
Se por um lado o que se fazia às escondidas tornou-se praxe explícita hoje, por outro, não está ocorrendo o mesmo com as qualidades que sempre estiveram às vistas de todos. Uma dessas qualidades é o caráter politizador do cidadão que, como o bem, está sobremaneira raro nestes últimos dias.
A prática de se agrupar, discutir, denunciar, protestar e interferir em função do bem coletivo em meio ao decurso da vida fez a nossa espécie alcançar o novo milênio – “o homem é um animal político”, foi o que aprendemos do gênio helênico de Aristóteles (384-322 a.C.).
Todavia, o que vige ultimamente para muitos e muitos é uma prática apolítica, liame entre civis, militares e gestores públicos.
Uma descaracterização duma qualidade humana a serviço do bom relacionamento, da ordem e da satisfação entre as
pessoas.
A distorção secular da liberdade em conjunto com essa prática apolítica são ingredientes desta (de)composição da democracia. As brechas da lei penal – que diferente de tudo no Universo, não muda – fomentam a impunidade; a fiscalização deficitária estimula a corrupção; a defasagem da Segurança e da Educação fortalece os ciclos do crime e da exclusão dos direitos constitucionais; a idolatria pelo consumo nutre a passividade política e o egoísmo.
Os últimos fatos na política daqui são um escarro na bandeira de Alagoas, um tabefe debochado no rosto dos alagoanos, uma resposta ao nosso comodismo social.
Enquanto multiplicam-se gestores usurpando o regime democrático para contraírem haveres, o cidadão deste tempo diminui gradativamente a sua qualidade de se voltar politicamente contra as injustiças de que são vítimas ele e seus conterrâneos. O animal político está deixando de ser político.
Quando uma vez, nesse ritmo desenfreado de permissividade sociopolítica, os governantes, os homens da Justiça, as pessoas jurídicas e os cidadãos se revestirem definitivamente da prática apolítica, decerto o século 21 representará,
enfim, o triunfo do mal sobre o bem.
(*) É estudante de Letras da Ufal.
O início do século 21 parece anunciar o fim dos impedimentos. O que os séculos disfarçaram, todos os pecados que as religiões tentaram conter, os males não provados pela natureza, as práticas que os homens esconderam, tudo isso o nosso tempo vulgarizou e incentiva. A contemporaneidade representa o triunfo da liberdade sobre a noção de limite.
Se por um lado o que se fazia às escondidas tornou-se praxe explícita hoje, por outro, não está ocorrendo o mesmo com as qualidades que sempre estiveram às vistas de todos. Uma dessas qualidades é o caráter politizador do cidadão que, como o bem, está sobremaneira raro nestes últimos dias.
A prática de se agrupar, discutir, denunciar, protestar e interferir em função do bem coletivo em meio ao decurso da vida fez a nossa espécie alcançar o novo milênio – “o homem é um animal político”, foi o que aprendemos do gênio helênico de Aristóteles (384-322 a.C.).
Todavia, o que vige ultimamente para muitos e muitos é uma prática apolítica, liame entre civis, militares e gestores públicos.
Uma descaracterização duma qualidade humana a serviço do bom relacionamento, da ordem e da satisfação entre as
pessoas.
A distorção secular da liberdade em conjunto com essa prática apolítica são ingredientes desta (de)composição da democracia. As brechas da lei penal – que diferente de tudo no Universo, não muda – fomentam a impunidade; a fiscalização deficitária estimula a corrupção; a defasagem da Segurança e da Educação fortalece os ciclos do crime e da exclusão dos direitos constitucionais; a idolatria pelo consumo nutre a passividade política e o egoísmo.
Os últimos fatos na política daqui são um escarro na bandeira de Alagoas, um tabefe debochado no rosto dos alagoanos, uma resposta ao nosso comodismo social.
Enquanto multiplicam-se gestores usurpando o regime democrático para contraírem haveres, o cidadão deste tempo diminui gradativamente a sua qualidade de se voltar politicamente contra as injustiças de que são vítimas ele e seus conterrâneos. O animal político está deixando de ser político.
Quando uma vez, nesse ritmo desenfreado de permissividade sociopolítica, os governantes, os homens da Justiça, as pessoas jurídicas e os cidadãos se revestirem definitivamente da prática apolítica, decerto o século 21 representará,
enfim, o triunfo do mal sobre o bem.
(*) É estudante de Letras da Ufal.
Universidade Federal de Alagoas
Artigo originário da Gazeta de Alagoas (G+)
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