domingo, 5 de junho de 2016

A FRESTA




A fresta




Levo um olhar à janela toda vez que passo por ela, numa rua movimentada, esquina de um dos encontros desta minha vida. Esteja um dia de chuva ou sol, nublado ou iluminado, a fresta da janela permanece na mesma posição. Tem menos de 15 centímetros de abertura. Imagino um raio estreito transbordando pela sala da casa. Uma luz limitada. Fico com pena. Em dia de sol, a janela poderia estar totalmente aberta pra deixar o ar inundar o ambiente.

É assim com algumas pessoas. Se permitem pouco. Apenas uma fresta de tentativa por uma vida regrada. Tudo no seu devido lugar. Na sua rotina. Horários pontuais. Tem hora pra almoçar. Hora pra dormir. Nunca hora pra se divertir ou aproveitar a trajetória antes que ela acabe na próxima curva.

Hoje, foi por uma fresta que a minha vida não teve um fim. Seria um acidente grave na estrada, se eu não estivesse devagar. Um carro rodopiou na minha frente e quase ocorreu um engavetamento. Prudência é o nome da fresta desta manhã.

Limitada é a fresta da janela daquela casa. É como esperar que todo dia chova e a água invada a sala. Deixa o sol entrar, já dizia a música. O sol vai voltar amanhã e quem sabe depois de amanhã. Abra a janela. É outono! A estação em que a natureza dispensa as folhas pra receber novas pétalas e cores. Se permita ver e experimentar outros horizontes! A vida é feita de vários ângulos. O da fresta é o mais restrito.


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