A BORBOLETA
DOURADA
Um mito,
ou um sonho...
Mauro
Martins Santos
Há um bosque encantado e profundo. Um
mundo.
Um sagrado lugar distante...
Há um
bosque encantado e profundo.
Um mundo.
Um lugar
distante
Radiante.
Caminho do
poente, indefinido
Contido,
Triste e
choroso lamento...
Lento
Tormento,
Sempre na
busca do pôr do sol.
Os raios do
sol refletem asas de borboletas;
Violetas
Entre
nesgas de nuvens douradas
Aladas;
A verem
deste bosque - caminho do poente
Dolente,
Das mais
profundas lembranças...
Dança
De douradas
asas sempre recorrente,
Intermitente
Sonho...
Rodopiava sempre...
Contente
E eu a via,
e esta tormentosa visão me seguia,
Via
Seu dourado
rebrilho de encanto e seguia...
Seguia
Sempre rumo
ao poente, meu poente...
Pedras do
caminho - ah, o Tempo nublando,
Tornando
Bassa a
visão que tecem as coroas,
Ornadas de
fios de sóis e, da asa dourada
Da
encantada
Borboleta
que atravessou minha vida,
Querida...
minha querida...
Constelam,
estrelam os flavos rebrilhos
Rastilhos
de nós...
Ah, pedras
que choram já de tensa saudade;
Verdade
Que digo: -
Saudade de algo que não existe?
Triste,
Não a
esperava, e tão de repente ela surgiu.
Assumiu
O encanto e
por aqui volátil passou.
Pousou
Nas pedras
deixou um rastro de saudade.
Piedade
Oh, pedras
que choram por um fulgor de encanto,
No entanto,
Por
espanto, ora é borboleta de belo fulgor,
Ora é
flor...
Quero-te
borboleta, minha dourada flor,
Ardor de um
pôr do sol. - Alguém a viu passar
Caminhar ou
voar?
Delirar
Já começo -
ora, sou um caçador solitário,
Solidário
Em olhar o
dossel das altas ramagens,
Folhagens
Em fúlvidas
chamas.
Eu de rede
na mão a vagar, ela a voar
E voar...
O desvario
que transmudou em chama,
Inflama
O coração! Faz
de mim só esperança, com asas de ouro,
Douro
A rosa-
flor nas asas da saudade, tão apenas,
um esgar de
carinho deixou!
Ficou
O vazio do
amor, e as pedras que choram...
Continuo
seguindo o ímpeto natural para o dolente
Poente
A
declinar-se na distância feita de restos de esperança:
Trança
De tramas e
de fios flamejantes,
Cortantes,
Constantes,
De longa
espera...
Quisera
Que ao
solver dos anos, eu, caçador de borboletas,
Historietas
Povoadas de
fadas ouvisse - a acalentar meu cansaço.
Fracasso
É o laurel
da velhice nas coisas do amor:
Flor
Que és
agora, borboleta serás ao após;
Pós
De
estrelas, vêm num acalanto fazer-me menino,
Pequenino:
- Era
uma vez... Uma fada-borboleta dourada de olhos azuis...
Sou de fato
um tolo a crer há um século em mim mesmo...
e, nos
olhos azuis da fada
encantada
Tão ontem
mesmo por mim
encontrada.
Nesta selva
em vão procuro, teus cabelos
dourados,
Alados
olhares de fada de sóis bem
trançados.
Olhos que
ao me fitarem invadem e leem minha alma
Medo de
almejá-la e
Perdê-laSem
ao menos
Tê-la...
Mas
fazendo-se já escuro, o que é que
procuro?
Escuro
Faz-se o
Tempo que desfaz todas as
horas:
Demoras
Mais duras
- clama no silêncio, esperançoso
peregrino
Chamo-te a
mim - já não me dou a correr;
não mais...
Mas,
Já o tempo
flui, não venço mais
correr
Dá-se-me
sofrer
Oh, dourada
fada-borboleta, és
flor-amor-calvário...
Fabulário
De dores e
de penas!
Esta, que
se trasmuda em
borboleta-saudade-flor,
Dor...
Também
inevitável
De um amor
inalcançável,
Visível,
Mas
torturante por tornar-se
intocável.
- O Tempo
que flui, não vai deixar que
a Vida
Sua serva,
consiga alcançar-te,
querida.
Buscar
Pela vida -
viajando sem mim,
Assim,
Do vazio de
ti,
borboleta-flor
Fada-mulher
que encerras o
Amor,
Continuas
teu destino a voar...
Voar...!
A buscar
Eu estou -
o poente da estrada
Predestinada,
Ao extremo
da estrada o poente
Do caminho o Fim...!
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