sábado, 9 de janeiro de 2016

MÚSICA - SAMBA. NELSON SARGENTO AO COMPLETAR 90 ANOS VESTE A FARDA DO E.B. QUE LHE RENDEU APELIDO


Nelson Sargento completa 90 anos e volta
a vestir farda que lhe rendeu apelido

Pedro Zuazo

Nos anos em que serviu ao Exército, de 1945 a 1949, Nelson Mattos foi repreendido uma única vez: quando saiu de uma noitada e foi direto se apresentar no quartel. “O sargento transpôs o portão das armas sobraçando um violão”, registrava o boletim de ordem e disciplina do dia seguinte. O episódio ficou marcado na memória do sambista. Por isso, foi com bom humor que Nelson Sargento topou vestir a farda que lhe rendeu o codinome, em comemoração aos 90 anos, que completa na sexta que vem.
— Aquela repreensão me pendurou. Só consegui limpar depois de três anos — lembra o baluarte da Mangueira que, em seu paiol de composições, dispõe de uma artilharia pesada de mais de 400 sambas.
O aniversário será comemorado com estilo. Primeiro, ele fará shows em São Paulo, neste fim de semana. Depois, no dia 13 de agosto, sobe ao palco da Academia Brasileira de Letras, ao lado de Monarco. Para fechar, Nelson será enredo do desfile da Inocentes de Belford Roxo, no Carnaval 2015.
— É um cara que merece todas as honras. Brinco que, depois do “Agoniza mas não morre”, ele não precisa compor mais nada — diz Monarco.
Nelson, que aos 8 anos já desfilava pelo Salgueiro e ainda adolescente começou a compor para a Mangueira, não pensa em parar. Tem projetos de lançar um CD comemorativo pelos 90 anos e um livro de partituras em braile.
-Não tenho pressa.
Tenho habeas corpus com São Pedro até 2030! - diz o bamba.

Baluarte da Mangueira, Nelson Sargento comemora nove décadas de vida e posa com farda do Exército Foto: Marcelo Martins

Talento nas artes plásticas
Batizado de “Enciclopédia do Samba” por Beth Carvalho e coroado presidente de honra da Mangueira, Nelson Sargento não é reconhecido só pelo samba. Os mais próximos conhecem uma faceta pouco divulgada, mas bastante elogiada: a de artista plástico.
“Fui pintor de paredes por muito tempo, então, tintas nunca foram segredo para mim. Em 1973 arrisquei fazer um quadro e mostrei ao Sérgio Cabral, o pai. Ele disse que estava bom e me mandou fazer mais.”
O trabalho chamou a atenção de Moacyr Luz. Depois de compor, em parceria com Aldir Blanc, a música “Flores em vida”, para homenagear o baluarte nos seus 70 anos, ele convidou Nelson para um projeto diferente.
“Ele havia pintado as paredes da casa do Cacá Diegues. Então, o convidei para ilustrar a biografia fotográfica do cineasta” — conta Moacyr, sem medir elogios: — Nelson é o último de uma linhagem.


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