*Leonard
Brand e Ernest Schwab
Se uma árvore cair na floresta
e não houver ninguém para ouvir, será que a queda produzirá algum som? A
pergunta pode parecer sem sentido, mas a resposta pode levar-nos a uma visão
fascinante da natureza do som, das cores, dos sabores, da beleza, do amor e
do gênio inventivo do Criador.
Quando uma árvore cai, seus
ramos provocam deslocação de ar à sua volta, atingem outras árvores e, por
fim, batem no chão com força. Todas as colisões de objetos contra objetos ou
de objetos com o ar geram movimentos vibratórios, os quais se deslocam como
uma onda. As vibrações das moléculas do ar ou ondas de som são controladas
por leis físicas mensuráveis com exatidão. A natureza e o tamanho dos objetos
colidentes e a força com que se impactam, controlam a forma e a complexidade
das ondas sonoras, que se movem pelo ar em velocidade constante, controladas
com precisão pelas leis da física. Assim pode parecer que o som é totalmente
controlado pelas leis da física. Contudo, essa é uma conclusão prematura
porque, até aqui, o que descrevemos são vibrações das moléculas do ar. Como
essas vibrações se tornam um som?
O ouvido
Quando a árvore cai, um
lenhador está trabalhando por perto. As ondas do som, ou moléculas do ar em
vibração, produzem a oscilação de seus tímpanos e esse movimento é
transmitido ao ouvido interno, onde uma longa fileira de receptores reage a
elas. Os receptores de uma das extremidades da fileira respondem às ondas
mais longas, percebidas por nós com sons graves. Os receptores da outra ponta
são ativados por vibrações curtas, que percebemos como sons agudos. Entre os
dois extremos há muitos outros receptores, cada um sintonizado numa faixa
sonora intermediária e conectado ao cérebro por um nervo transmissor do
sinal. O cérebro interpreta os sinais, permitindo-nos perceber o som.
Que tipo de sinal viaja ao
longo de cada um dos nervos, conectando cada receptor ao cérebro? Seria um
som que caminha através do nervo? Não, cada nervo transmite somente um
impulso ou sinal elétrico. Os sinais elétricos de um receptor de sons graves
e os sinais de um receptor de sons agudos são fisiologicamente os mesmos.
Cada receptor do ouvido interno tem sua própria conexão nervosa com o
cérebro. A única maneira de o cérebro saber se o som é grave ou agudo é
através do nervo que transmite o sinal. Até aqui não temos nenhum som,
somente vibrações aéreas de moléculas e impulsos elétricos ao longo de
nervos.
Como a conexão entre o ouvido e
o cérebro consiste apenas em impulsos elétricos, a origem do som de uma
árvore caindo deve vir de algum lugar dentro do cérebro. Não há nenhum som
viajando ao longo dos nervos; somente eletricidade. De alguma forma, o
cérebro recebe os pulsos elétricos de vários nervos e os traduz numa
percepção consciente a que chamamos “som”. O que percebemos como som é
estritamente uma sensação gerada pelo cérebro. Leis da física e da química
governam as vibrações das moléculas do ar e suas interações para tornar a
vida possível, mas a vida é muito mais do que essas leis. A vida resulta de
uma organização muito complexa não definida por elas, do mesmo modo que o
desenho do seu carro não é controlado pelas leis da natureza, mas teve de ser
criado. Somente o cérebro é capaz de produzir a sensação de som.
Para ilustrar porque um som não
pode ser produzido somente por leis físicas, compare as conexões do ouvido
com as conexões de um teclado de computador. Quando apertamos a tecla da
letra M ou G, um sinal elétrico é enviado ao processador e trabalhado para
reproduzir a letra correta na tela do monitor. Porém, as letras M ou G, como
aparecem no monitor, são criadas dentro do com-putador e controladas pelas
conexões entre teclado e monitor. A atividade elétrica num computador ou no
cérebro cessaria imediatamente sem as leis da física, mas a forma das letras
e a que teclas estão associadas não são controladas por qualquer lei da
natureza - elas foram projetadas por um engenheiro. Assim, um especialista em
computadores pode mudar facilmente as conexões para, ao se pressionar a tecla
M, aparecer um G no monitor.
Da mesma forma, as leis físicas
não podem determinar qual o som que vem de cada nervo; isso é feito por uma
conexão arbitrária do ouvido. Se pudéssemos penetrar o interior do cérebro,
desconectar os nervos e inverter as ligações, as vibrações agudas seriam
percebidas como sons graves porque a parte do cérebro que gera essa percepção
seria estimulada pela inversão das conexões. Uma flauta soaria como uma tuba
e uma tuba seria percebida como uma flauta.
A vista
Vamos agora nos deslocar dos
ouvidos para os olhos. A luz dos raios solares se reflete nos objetos à nossa
volta. Alguns desses raios atingem os receptores luminosos da retina no fundo
do olho. A maior parte dos raios de luz que chegam às folhas de uma árvore é
absorvida, mas a luz verde é refletida.
Quando um receptor de luz é
ativado por um raio luminoso, envia uma mensagem ao cérebro. Que tipo de
mensagem é essa? Esses raios atingem nossa retina e enxergamos as folhas como
verdes. Um vestido vermelho reflete os raios vermelhos e nossos olhos se
encantam com a beleza da brilhante cor vermelha do vestido, assim como da
garota que o está usando. É um impulso elétrico do mesmo tipo daqueles
enviados pelo ouvido em resposta às vibrações do ar. Assim, se os mesmos
impulsos elétricos transportam informações sobre ondas de som e raios de luz,
por que nosso cérebro não se confunde? Pela mesma razão que um computador
sabe a diferença entre o sinal da tecla M e o sinal da tecla G. Os circuitos
que saem de cada tecla chegam a diferentes pontos dentro do computador.
Igualmente, os nervos que partem da retina chegam a um lugar especial no
cérebro, um nervo específico para cada sinal visual. Todas as informações
procedentes desses ner-vos chegam ao cérebro como impulsos elétricos, e ele
as interpreta como uma imagem visual.
Mas assim como tanto os raios
de luz de ondas curtas como os de ondas longas são comunicados ao cérebro
pelo mesmo tipo de sinal elétrico, o modo de interpretação desses sinais é o
resultado de instruções (como os programas de computador) programadas para
interpretar os sinais elétricos de cada parte do nervo ótico, e produzir a
imagem visual correta. Em outras palavras, nossa percepção das cores vermelha
e verde é o resultado de um sistema de processamento de informações. Nada nas
leis da física define as características desse sistema; ele teve de ser
inventado por um projetista inteligente.
Alguém pode argumentar que os
comprimentos da onda luminosa produtores das cores variadas são bem
conhecidos dos físicos e é perfeitamente previsível que o comprimento de onda
será visto como uma cor específica. Sim, isso é verdade, em parte. Os
comprimentos de onda do espectro visível da luz são o resultado de leis
físicas precisas, e o modo como são refletidos pelas diferentes substâncias é
uma característica bem consistente da natureza. Também é verdade que podemos
prever que comprimento de onda iremos ver usualmente na cor verde. Mas as
exceções são a chave para solucionar esse enigma. O fato de a maioria de nós
enxergar o verde como resposta ao mesmo comprimento de onda luminosa, somente
confirma o fato de que o cérebro é programado de forma muito confiável;
podemos ter certeza de observar o verde sempre da mesma forma. Mas isso não é
o mesmo para todos. Algumas pessoas são incapazes de distinguir algumas
cores; elas não podem diferenciar o verde do vermelho. Será que as leis da
física mudam quando seus olhos são estimulados pela luz? Claro que não, o
comprimento de onda da luz refletida pelas folhas continua o mesmo. A
diferença está na interpretação ocorrente no cérebro e no sistema ótico,
produzida por uma instrução defeituosa na decodificação dos comprimentos de
onda do vermelho e do verde.
Felizmente, o daltonismo não é
um problema comum, e na maioria dos casos está limitado ao vermelho e ao
verde. Isso nos diz que o centro cerebral de interpretação da luz é
extremamente estável e confiável, mas, ainda assim, parece ser dependente da
organização do cérebro. Noutras palavras, as cores que vemos não são
controladas pelas leis da natureza, mas são o resultado do modo como o
Criador projetou nosso cérebro. As cores, como nós as percebemos, existem
somente nas espécies animais cujos cérebros produzem essa percepção
cromática. Portanto, o arco-íris está em nossa cabeça. Se inventássemos um
instrumento para detectar a luz, ele poderia somente medir o comprimento de
onda luminosa, e não detectar que cor os seres humanos perceberiam quando
seus cérebros a interpretassem.
Agora, lembrando a experiência
que discutimos antes: desconectar as ligações nervosas do ouvi-do. Imagine
que pudéssemos desligar o nervo do ouvido e invertêlo. Todavia, desta vez,
imagine que pudéssemos desligar dois nervos, um do ouvido e um do olho, e
trocá-los. Agora, o processador sonoro do cérebro receberia sinais elétricos
do olho, e o processador visual captaria os sinais de ouvido. O que veríamos
e ouviríamos? “Escutaríamos” a luz e “veríamos” o som! Com certeza nos
confundiríamos completamente porque o processador visual não tem o programa
certo para interpretar a informação sonora. Entretanto, veríamos algum tipo
de padrão gerado pelos sinais sonoros. Escutaríamos também sons estranhos!
O sentimento do amor
Recorde-se de um momento especial
em que você estava de mãos dadas com a pessoa amada, desfrutando os sons e as
cores de uma linda paisagem montanhosa. Os sentimentos de amor e
companheirismo tornaram as cores e os sons mais vívidos. De onde vieram essas
sensações? Que leis da natureza controlam esses sentimentos, experiências,
memórias e pensamentos em seu cérebro, os quais são a parte fundamental do
sentimento de amor? O toque suave do ente querido em sua mão apenas estimulou
os receptores do tato, e enviou sinais elétricos a pontos específicos do
cérebro. Isso soa romântico, não é?
Se parássemos por aqui
entenderíamos de física e química, mas não de amor e romance. Essa
experiência sentimental não pode ser descrita pelas leis da física ou da
química. É verdade que as leis da natureza unem as moléculas que tornam a
vida possível, mas somente o cérebro é capaz de saber o significado daquele
toque especial e de gerar um sentimento único, diferente daquele que seria
produzido em resposta a outro toque suave. Amizade, companheirismo e amor são
um belo sistema de relações dependentes de um programa analítico de
informações inventado pelo Criador e colocado em nossos cérebros, do mesmo
modo que os centros da percepção sonora e cromática.
Cremos que o amor exista porque o
Criador nos ama e pretende que experimentemos relações muito além da física e
da química, e nos levem a um tipo de contentamento e romance que somente um
Deus pessoal compreende e pode compartilhar conosco, visando a iluminar nossa
vida. O amor é uma invenção divina, programado em nossos cérebros. O amor,
assim como o arco-íris, está em nossas cabeças.
A genialidade de nosso mundo sensorial
Todo o nosso universo de percepções
de sons, imagens, cores, odores (sim, as fragrâncias envolvem o mesmo
princípio) e a mágica do amor, são produzidos por informações cerebrais e não
pelas leis acústicas ou óticas. Na próxima vez que você assistir a um
concerto orquestral, ou sentar-se à beira de um bosque ao entardecer, ouvindo
o coral de pássaros e assistindo às transformações das cores do pôr-do-sol,
pense sobre a fonte de todos esses estímulos sensoriais. Os vários
instrumentos da orquestra e os diferentes cantos dos pássaros estão vibrando
nas moléculas do ar de modo único, e a atmosfera reflete os raios solares de
diferentes comprimentos de onda. Toda essa física tem seu próprio fascínio,
mas não produz uma sinfonia ou um pôr-do-sol deslumbrante. O som cativante da
sinfonia e as cores inebriantes do pôr-do-sol são produzidos pelo cérebro.
São presentes que o Criador nos deu por meio de instruções e conexões. Ele
programou em nossos cérebros aquilo que a mente usa para transformar
vibrações friamente precisas do ar, em algo que percebemos como
extraordinariamente belo, uma experiência que desejamos compartilhar com
alguém que amamos.
Se uma árvore cair na floresta e
não houver ninguém para ouvir, esse acontecimento faz algum ruído? Não, ele
faz o ar vibrar, mas o som é produzido somente dentro do cérebro.
O que tudo isso significa?
Como as criaturas vieram a ter
esse equipamento de audição, visão, olfato e amor em suas cabeças? Por mais
de cem anos, a ciência vem explicando tal fato como resultado de mutações e
seleção natural - processos naturais puramente impessoais. Sugerimos neste
texto uma interpretação diferente, que leve a descobertas fascinantes sobre a
natureza do som, das cores, do sabor, da beleza, do amor e da genialidade
inventiva do Criador que as produziu. Como podemos estar tão certos de ver a
mão do Criador nisso tudo? Na verdade não podemos provar isso, da mesma forma
que ninguém também pode comprovar o contrário; mas cremos que é uma escolha
filosófica perfeitamente racional.
A ciência pode contribuir muito
no sentido de fazer-nos compreender como nossos cérebros e outros sistemas
naturais trabalham e como os organismos mudam. Há evidência abundante para a
microevolução e para o surgimento de novas espécies, mas há uma falta grave
de indícios convincentes de um mecanismo genético que produza um novo sistema
orgânico, ou que transforme uma forma animal básica em outra.* Não podemos
provar que o cérebro não poderia evoluir sem a existência de um projetista
inteligente, mas as ciências naturais carregam o pesado fardo de ter de nos
provar que poderia. Mesmo a melhor ciência não dispõe de provas para
demonstrar que as maravilhas do cérebro humano, por exemplo, poderiam surgir
sem um sábio projetista que compreende e inventou um órgão tão sofisticado e
habilidoso - um órgão capaz de produzir uma sinfonia de sons, imagens e amor,
que torna a vida tão bela.
Na visão da ciência moderna, as
leis impessoais da química e da física são a verdade definitiva. Mas cremos
que Deus é um Ser real e em Seu universo as relações pessoais são de
importância primordial. Deus é o inventor e governante das leis da natureza,
e Ele as usa de forma consistente para fazer funcionar o Universo. Mas elas
não são Seu motivo para a criação e nem Sua mais valiosa feitura. Para Deus,
as relações pessoais e a capacidade amigos compartilharem a contemplação das
maravilhas estéticas do Universo por Ele criado são muito mais importantes
que as leis naturais. As leis da natureza são somente Seus instrumentos para
prover algo mais importante – seres vivos racionais capazes de experimentar
relacionamentos e responder ao amor de Deus.
Os seres humanos nunca poderão
compreender a Deus, enquanto não entenderem e aceitarem Sua natureza como um
Ser real, para quem a lei
natural é tão-somente um meio
de dar sustentação à Sua mais alta prioridade - as relações de amor entre
seres que podem manter relacionamentos de confiança, porque escolheram
livremente assim fazê-lo.
*Leonard Brand (Ph.D. pela
Universidade de Cornell) ensina Biologia e Paleontologia, e é titular do
Departamento de Ciências Biológicas e da Terra, na Universidade de Loma
Linda, Califórnia, EUA. Seu e-mail: lbrand@llu.edu. Ernest Schwab (Ph.D .pela
Universidade de Loma Linda) ensi-na Anatomia e Fisiologia na Escola de
Profissões da Saúde da Universidade de Loma Linda. Seu e-mail:
eschwab@llu.edu Este artigo foi condensado de um ensaio publicado pelos
autores em Origins 58 (2005), pp. 45-56.
* Ver L. R. Brand, Faith, Reason, and Earth History (Berrien
Springs, Michigan: Editora da Andrews University, 1997), e Beginnings: Are
Science and Scripture Partners in the Search for Origins? (Nampa, Idaho:
Pacific Press, 2006). Ver também L. Spetner, Not by Chance! Shattering the
Modern Theory of Evolution (Brooklin, Nova Iorque: The Judaica Press, 1998).
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