sexta-feira, 15 de novembro de 2013


MEUS CASTELOS PREFERIDOS - ///@//RO ///@RTI//S S@//TOS


Posted: 04 Nov 2013

                                                
      Castelo medieval de Guimarães

 
          O castelo de Guimarães é um castelo da Idade Média com reformas de tempos posteriores.
Sério, sóbrio, distinto, ele transmite uma nota que é muito própria aos palácios portugueses.
É uma nota que também faz pensar no Brasil e no estilo de ser brasileiro, e que é a seguinte.
Os castelos europeus são - na maioria - todos muito bonitos, mas estabelecem uma espécie de solução de continuidade entre o castelo  o castelão e quem lhes passa perto.
Eles transmitem a ideia de que o castelo é meio inacessível e onde é um tanto difícil de entrar.


          Essa ideia não é intrinsicamente ruim; pelo contrário, ela cabe bem no papel de quem tem sua dignidade superior. O seu propósito inicial. Nos tempos em que, quem era desconhecido, era um potencial inimigo. É a ideia que se passa.
Em linhas gerais eu não critico essa concepção geral das coisas, eu até a louvo.
Pois eu gosto muito das coisas imponentes, majestosas e que sabem estabelecer distâncias.


          Mas há alguma coisa na índole portuguesa que faz do afeto uma nota característica do espírito nacional, como também no espírito brasileiro.
E o velho castelo português, ou o velho solar português, não diz a quem passa: “Não entre porque eu sou um castelo.”
Mas diz o contrário: “Olha, eu sou um castelo. Não quer entrar?”
E o popular português olha para esse convite com um sorriso largo de quem se sente em seu Portugal, e bem interpretado pelo senhor feudal dono do castelo.
É também o caso de muitos outros solares um pouco apalaciados, como o Solar de Mateus que aparece em garrafas de um conhecido vinho rosé.
O castelo de Guimarães é muito imponente, muito distinto. E é digno de nele morar um príncipe.
          Mas ele sugere que qualquer um que nele entrar encontrará ali a sua própria casa. Que será recebido com afabilidade, com bondade, que é uma nota nova que Portugal e Brasil inauguram nas harmonias do mundo. São povos chamados a isso. Ao lado de autêntico castelo, Guimarães tem qualquer coisa de casa de família.
E quem não conhece o castelão, pode supor que ele é homem de sair e ficar conversando com gente que está em volta. E que ele é respeitadíssimo. Mais como patriarca do que como governador!


 
          O castelo encarna certa vocação para a patriarcalidade nas relações que é muito típica de Portugal, e também do Brasil.
Nas casas modernas não se sente mais a intimidade desses castelos, solares e fazendas, onde reuniam-se a parentela toda e a comunidade castelã.
É uma virtude que começou a perfumar o mundo partindo de dentro de Portugal. O modo brasileiro deve ser aos moldes desse.
Por exemplo, comparemos Guimarães com o esplêndido castelo mouro de Granada. Este tem uma beleza monumental mas que enregela os ânimos um pouco.
Tome a minha querida torre de Belém, o mosteiro da Batalha, o Jerônimos: não nos enregelam. A pessoa desabrocha lá dentro.
Há qualquer coisa que é própria ao gênio luso, que desabrocha no castelo de Guimarães.
Esse gênio assim não leva para a moleza. Basta estudar, ou ler um pouquinho a vida de Nuno Álvares, cavaleiro por excelência, ou de qualquer digno morador de um castelo português para constatá-lo.



          No castelo de Guimarães isso também se percebe.
Em frente dele há o terreno onde se travou uma batalha feroz, dentro das batalhas decisivas da história de Portugal.
Cristãos e mouros ali se agarraram, se mataram, rolaram uns aos outros, no meio das exclamações, das pancadas, das punhaladas e das espadadas, ferozmente...
Porque, todas as medalhas têm seu reverso. Foi a Batalha de São Mamede, travada na periferia da cidade em 24 de Junho de 1128, que teve importância decisiva para a formação do reino de Portugal.
          É assim que o castelo de Guimarães, ainda que só olhado por fora, deixa uma recordação marcante e de todo imperecível.

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