NOSTALGIA DO FUTURO
Mauro Martins Santos – Pertence à Academia Guaçuana de Letras (AGL)
Vale do Jequitinhonha¹ – das meninas -
que o futuro olham, sem o verem!
As estradas
desertas chegam cansadas de sol e calor sem nada trazerem.
Bem no fundo
daquele vale profundo, o vermelho do pó se enleva ao céu.
No alto, bem no
alto daquele pináculo, a pedra grande do Miradouro.
Para onde vai a
esperança! Como se houvesse - às meninas de Vila D’Ouro.
Lindas
patrícias, quase morenas, um tanto pequenas, já quase douradas.
Artesanato e
janelas, só sabem do ontem: olhos e graça de raças traçadas,
Verde holandês
nos olhos puxados, à mostra o alourado dos antepassados.
Mestiços
queimados do trabalho diário em busca do pão de tantas jornadas
Doam seu sangue
a formar lindas donzelas, em suas janelas ali paradas.
A que isso se
dá? Falta-lhes tudo. Longe, os homens
buscam trabalho,
As meninas
tradição; fazem o que podem, arte manual, fuxico de retalho,
Depois do
cansaço, sonhar...Miram a Pedra Grande a fugir de um passado
Dão de si o
filial amor - a saudade de quem se foi - sentimento mais puro
Só ficando bem
no fundo da alma molhada, a eterna nostalgia do futuro.
As estradas vêm
de longe, sem nada trazerem, cansadas de sol causticante
Entre elas
apostam, quem é o vulto bruxuleante daquela miragem distante.
Passatempo
d’esperança, longe se desfaz a visão que não traz o seu amado.
Voltam ao
trabalho cuidar: palha, penas, sementes, miçangas, pedra-sabão...
Futuro é incerto – certo é o vazio – pois sonhar
é preciso, a alentar o coração.
Anita, Otília,
Abadia e Jocimar, levantam de madrugada, sem café para tomar
A mãe de
quarenta, que parece ter setenta, busca no fio d’água seu tesouro
Não é moeda! Por
lá não há, busca o seu ouro: o barro molhado para coar.
Coleta, cavouca
bem fundo, sorri, encontrou umidade para seu odre de couro.
No fundo vale
poeirento, branquejam ossos e pedras, ao luzir do sol poente.
São lindas as
patrícias! Quase morenas, pequenas e por vezes quase alouradas
Cismam que bem
longe das serras nuas, há o mar e lindas praias douradas.
Nostalgia do
futuro! Tornam ás suas janelas, envoltas na realidade do presente!
Moji Guaçu –
Estado de São Paulo – Brasil - ///@//rº ///@rtins
S@//tºs
1.
Vale do Jequitinhonha,
é uma região do Estado de Minas Gerais, no Brasil, muito pobre. O Estado é um dos mais lindos do País, mas
esta região do Vale do Jequitinhonha sofre pelo fenômeno das secas, daí sua
população masculina migrar para outras regiões em busca de trabalho. Suas moças,
no entanto, são bonitas e solitárias, á espera de seus namorados, noivos ou
maridos.
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