sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


NOSTALGIA DO FUTURO

Mauro Martins Santos –  Pertence à Academia Guaçuana de Letras (AGL)

 

Vale do Jequitinhonha¹ – das meninas - que o futuro olham, sem o verem!

As estradas desertas chegam cansadas de sol e calor sem nada trazerem.

Bem no fundo daquele vale profundo, o vermelho do pó se enleva ao céu.

No alto, bem no alto daquele pináculo, a pedra grande do Miradouro.

Para onde vai a esperança! Como se houvesse - às meninas de Vila D’Ouro.

 

Lindas patrícias, quase morenas, um tanto pequenas, já quase douradas.

Artesanato e janelas, só sabem do ontem: olhos e graça de raças traçadas,

Verde holandês nos olhos puxados, à mostra o alourado dos antepassados.

Mestiços queimados do trabalho diário em busca do pão de tantas jornadas

Doam seu sangue a formar lindas donzelas, em suas janelas ali paradas.

 

A que isso se dá?  Falta-lhes tudo. Longe, os homens buscam trabalho,

As meninas tradição; fazem o que podem, arte manual, fuxico de retalho,

Depois do cansaço, sonhar...Miram a Pedra Grande a fugir de um passado

Dão de si o filial amor - a saudade de quem se foi - sentimento mais puro

Só ficando bem no fundo da alma molhada, a eterna nostalgia do futuro.

 

As estradas vêm de longe, sem nada trazerem, cansadas de sol causticante

Entre elas apostam, quem é o vulto bruxuleante daquela miragem distante.

Passatempo d’esperança, longe se desfaz a visão que não traz o seu amado.

Voltam ao trabalho cuidar: palha, penas, sementes, miçangas, pedra-sabão...

 Futuro é incerto – certo é o vazio – pois sonhar é preciso, a alentar o coração.

 

Anita, Otília, Abadia e Jocimar, levantam de madrugada, sem café para tomar

A mãe de quarenta, que parece ter setenta, busca no fio d’água seu tesouro

Não é moeda! Por lá não há, busca o seu ouro: o barro molhado para coar.

Coleta, cavouca bem fundo, sorri, encontrou umidade para seu odre de couro.

 

No fundo vale poeirento, branquejam ossos e pedras, ao luzir do sol poente.

São lindas as patrícias! Quase morenas, pequenas e por vezes quase alouradas

Cismam que bem longe das serras nuas, há o mar e lindas praias douradas.

Nostalgia do futuro! Tornam ás suas janelas, envoltas na realidade do presente!

 

Moji Guaçu – Estado de São Paulo – Brasil - ///@//rº ///@rtins S@//tºs

1.        Vale do Jequitinhonha, é uma região do Estado de Minas Gerais, no Brasil, muito pobre.  O Estado é um dos mais lindos do País, mas esta região do Vale do Jequitinhonha sofre pelo fenômeno das secas, daí sua população masculina migrar para outras regiões em busca de trabalho. Suas moças, no entanto, são bonitas e solitárias, á espera de seus namorados, noivos ou maridos.

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