QUANDO ÉRAMOS JOVENS
MAURO MARTINS SANTOS (AGL*)
Quando éramos jovens, sonhávamos não com um mundo diferente - penso nisso - mas sonhávamos de um modo diferente. Nossos pensamentos eram leves como as nuvens, e se algo nos assolava a alma, se para nós era uma reviravolta, na verdade não passava de aragem que antecipa a chuva. Às vezes o vento zunia mais forte, mas num sem conta de vezes era por estar enamorado. Apaixonado é uma palavra muito adulta para um jovem. Estar enamorado, fazia o rosto queimar, o peito sufocar, o coração acelerar. Tais sentimentos eram de uma existência tão verdadeira, mais que todo o o cosmo em nós contido.
Hoje na distância dessa longínqua juventude, entrevemos quanta pureza, quanta verdade sincera eram colocadas no arcabouço de nossos pequenos corações. Tudo a se formar, tudo a se descortinar diante de nós. Que era o futuro senão a realização de nossos sonhos, tantos deles irrevelados. - Meu amor da juventude mais longínqua, eu perdi naquela esquina/ onde uma fresta de porta se abriu e recolheu para sempre a menina. Eu a adorava na esfera de meu universo, por coisas que vamos morrer antes de saber: a força de uma palavra! Foi a força de uma palavra que fez aquela porta se abrir e levar para sempre a menina. Que palavra forte foi essa? Qual delas em meio a milhares de palavras ditas e não ditas, palavras coloridas de sangue de amor, envoltas em perfume de rosas rubras, ou palavras que ferem a frágil suscetibilidade de um coraçãozinho que bate descompassado e se queda como um passarinho atingido mortalmente? Seria essa mal dita palavra pronunciada em tom áspero, ou não, só mal entendida, seria? Ah! O amor incipiente, que doce latejar de um coração quando abraçados, sentia o dela bater em meu peito, como se o dela fosse o meu. Ah! Seu perfume, que era só dela, em nenhum canto de toda a natureza existia outro igual. Seus cabelos longos, sedosos. Seu porte altivo, as vezes até arrogante. Mas não, tudo a consistia na figura dos sonhos mútuos juvenis, que o tempo se encarregou de abrir aquela porta e recolher para sempre a menina.
Hoje, pensamos de outra maneira. Mas quando se volta no tempo dizemos: quando éramos jovens e ingênuos acreditávamos em que o mundo pudesse ser diferente. É uma congruência de nós mesmos que reconhecemos que fomos, ou somos feitos dessa matéria básica que edifica a própria vida.
Aí veio a chamada idade da razão, sopesada de suas duras verdades, que jamais houvemos cogitado projetá-las das profecias à concretude de um possível futuro.
Então formatou-se a realidade das nuances do mimetismo humano em todas suas mazelas.
Dos casos por haver contar, às constatações de quase toda a humanidade.
Triste saldo de uma crença ingênua e juvenil, chocando-se como ondas gigantes contra as rochas da moral, cuja individualidade escassea, a contemporaneidade se encarregou de escancarar o corolário da nua natureza humana.
(*AGL) - Academia Guaçuana de Letras - Moji Guaçu-SP
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