A CHAMA DE
UMA VELA – GASTÓN BACHELARD
“A Chama de Uma Vela”, de 1961, Bachelard buscará o termo de
sua estrutura de pensamento. Nesta etapa, o conceito que vinha delineando de
Devaneio toma um aspecto central. O devaneio é uma atividade psíquica manifesta
no mundo racional. E será na poesia e no seu estudo que se buscará a percepção desta
atividade. O que importa na leitura de uma obra poética é o sentimento que a
imagem pode provocar no sujeito-leitor. Para Bachelard, portanto, há uma
relação direta poema-leitor que é única; para além mesmo da intenção inicial do
autor do poema. A imagem literária é portanto, dialética.
Esta dialética avança pelo universo onírico dos poetas,
estabelecendo a regra de que não há síntese possível entre imagem e conceito.
Só através desta alma feminina e lunar é que se pode alcançar o lado noturno da
alma. Aquele que guarda os tesouros do coração dos alquimistas, a pedra
filosofal do sentimento de estar no mundo.
Pode-se exemplificar as consequências de tal filiação de
pensamento, mais voltado para o terreno fenomenológico, pelos percursos de
acadêmicos que refutaram a racionalidade asséptica da pesquisa de campo, com
suas conclusões traduzidas para o “ocidentalês” universitário, trilhando uma
via que os levou a mergulhos no imaginário e no pensamento mítico de outras
culturas e civilizações, chegando a transmutar suas próprias existências,
desfazendo visões de mundos extremamente arraigadas em nossas mentes por anos e
anos de educação tradicional., através da citação do pesquisador Carlos
Castãneda, que com sua obra sobre a cultura dos índios Yaquis, do México,
mergulhou em um novo universo, onde o onírico sobrepunha-se amplamente ao
mundano e racional. Se fosse possível um encontro entre o filósofo francês e o
antropólogo, que, dizem, é brasileiro, temos certeza de que o diálogo travado
seria extremamente profícuo no sentido de uma fundação de uma ontologia do
espiritual, onde o devaneio bachelardiano seria de extrema valia para o “parar
o mundo” conforme insistentemente enfatizado por D. Juan ao seu discípulo.
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