quarta-feira, 24 de outubro de 2012


DEIXOU DE SER RIO PARA TORNAR-SE OCEANO

Um réquiem ao Sr José Maria Duprat (Nosso “Rubem Alves”) Membro fundador da AGL - Academia Guaçuana de Letras -
 
                                                                     Mauro Martins Dos Santos - Membro Fundador da AGL.

Conta-se uma história, que uma pequenina fonte começou a borbulhar lá no alto de uma enorme e íngreme montanha e um filete de água iniciou a sua jornada.

Foi descendo pelas encostas, foi crescendo com outras fontes, aumentando seu volume, e num esplendido salto atingiu lá embaixo o vale, no sopé da montanha.

Foi correndo célere por entre as árvores dos bosques, as pedras,  formando corredeiras e cachoeiras  lutando em seu caminho ora mais facilmente, ora com dificuldades. Admirava-se, sua força, sua habilidade e persistência ao vencer os obstáculos.

 Crescia em percurso e largura. Passou por planícies e por áreas desérticas. Umedeceu-as, dando-lhes condições de acolher as sementes para florescerem e darem frutos. Forneceu os frutos do alimento a homens, mulheres e crianças que se agrupavam às suas margens.

Matou a sede da terra, de povos, de animais e de pássaros, soube louvar e honrar a natureza. Teve sempre a Fé enaltecedora dos mansos de espírito ao seu  Criador!

Conheceu outras correntes de água e as reuniu em si, tornando-se maior e mais fecundo. Os peixes, seus amigos, nutriam-se e multiplicavam-se em suas águas translúcidas.

Era feliz! Fazia aos outros felizes com sua mansidão, virtude dos verdadeiramente fortes. Mas, chorou um choro de águas, que só Deus pode ver, quando lhe caiu uma “Ponte”. A mais amada de todas as Pontes, a que unia com resplendor suas mais veneradas margens.  As margens em torno das quais se reuniam aqueles que lhe eram mais caros. E ela os unia.

Porém, certo dia, um pouco adiante, foi despertado para uma realidade: seu caminho seguia, inexoravelmente em direção ao mar, talvez alertado por uma ligeireza em suas correntes mais profundas.

Parecia ao bravo rio - no entanto sem murmúrios – que estaria chegando o momento em que iria entrar no “Grande Oceano Azul”, assim pensava, e, que iria desparecer como rio, para sempre.

Pensou  contudo,  ser esta realidade um meio de ingressar em outro leito que o fizesse voltar à sua tão amada Ponte ou encontrá-la outra vez. Mas não havia como saltar sobre o  horizonte distante e invisível do  Grande Oceano Azul, nem tão pouco voltar atrás. Os rios não voltam jamais. Mas podem encontrar quem os amou um dia. As flores não lhes são lançadas em vão...

Ao fazer a derradeira curva, teve em sua superfície refletidas as nuvens brancas e além o Infinito  Azul, quando descortinou-se aos seus olhos o interminável mar. Imenso.  Sentiu um quê não conhecido, não sentido em seu curso, seria o tão falado medo?

Não. O grande e valente Rio não conhecia a palavra medo. Poderia Ignorar, mas ao vivenciar, ao saber, tudo se tornava claro como suas próprias águas que lhe davam a consistência da vida.

No entanto, percebeu que esse era o seu porto final. E, confiante como em toda sua existência, fez a sua última descida. Ingressou Naquele que era maior que a si próprio, o vasto e profundo Oceano.

Brilhou então a Verdade. Entrar no Grande Oceano Azul não é deixar de existir, não é morrer, não é o fim e sim tornar-se parte dele, para um recomeço do sagrado ciclo da criação pelas mãos do Sagrado Artífice do Universo.

O garboso e sereno Rio, após seu singular percurso, tornou-se parte integrante do mar, como tantos outros rios que haviam chegado de todos os cantos do mundo. Grandes, velhos, jovens, escuros, castanhos, amarelos, rios de todas as partes da Terra, em sonora e borbulhante confraternização, eternizando felizes suas águas, para a grande festa do ciclo vital das águas: todos ansiosos para tornarem-se chuva e caírem das nuvens lá para as bandas de onde nasceram.

Agora nosso querido Rio já não está mais só. É parte de um Grande Plano, onde, entrelaçados e unidos, todos são apenas UM, para todo o Tempo de Deus.

Deixou de ser Rio para se tornar Oceano.

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