sábado, 26 de novembro de 2011

A MENTE APAGA OS REGISTROS DUPLICADOS

A MENTE APAGA OS REGISTROS DUPLICADOS.

(Artigo do jornal O Estado de São Paulo)

O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos.

Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma
mobília, sem portas ou janelas, sem relógio... você começará a perder a
noção do tempo.

Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as
reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos
de sono, fome, sede e pressão sanguínea.

Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento
dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos,
como o nascer e o pôr do sol.

Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar:

Nosso cérebro é extremamente otimizado.

Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho.

Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia.

Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar
conscientemente tal quantidade.

Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no
índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela
primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está
acontecendo.

É quando você se sente mais vivo.

Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente
colocando suas reações no modo automático e 'apagando' as experiências
duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o
tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada
vez mais rapidamente.

Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa
atenção parece ser requisitada ao máximo.

Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os
sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo.

Como acontece?
Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com
os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual
marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa , no
lugar de repetir realmente a experiência).

Ou seja, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente.
Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa são
apagados de sua noção de passagem do tempo.

Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a
experiência repetida.

Conforme envelhecemos as coisas começam a se repetir - as mesmas ruas,
pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações, -...
enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar
de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de
novidades), vão diminuindo.

Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de
novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.

Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a...

ROTINA


A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das
pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo
um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.

Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M & M (Mude e Marque).

Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou
registros com fotos.

Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias
sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no
seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas.

Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário
para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia).

Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de
momentos usuais.

Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo,
bota-foras, participe do aniversário de formatura de sua turma, visite
parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do
cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal,
vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.

Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente.

Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes.

Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências
diferentes.

Seja diferente.

Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu
marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras
culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos... em
outras palavras... V-I-V-A!

Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais
longo.

E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e
buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais
interessante e muito mais v-i-v-o... do que a maioria dos livros da vida
que existem por aí.

Cerque-se de amigos.

Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões
diferentes e que gostam de comidas diferentes.

Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é?

Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade,
emoção, rituais e vida.

E S CR EVA em
tAmaNhos diFeRenTes e em CorES
di f E rEn tEs !
CRIE, RECORTE, PINTE, RASGUE, MOLHE, DOBRE, PICOTE, INVENTE, REINVENTE.
V I V A !
DUM VIVIMUS VIVAMUS
ENQUANTO VIVEMOS VIVAMOS.

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei esse artigo!
Muito interessante. Li ao contrário do tempo, de forma lenta, saboreando cada linha. Ultimamente, o tempo tem sido veloz pra mim. Mas não aqui, neste cantinho, entre as cortinas do tempo.
Um beijo,
Nanda Mestrinel

Anônimo disse...

Querida Nanda.
Que bom que você gostou, porque quando você gosta é porque é realmente bom! Achei o artigo muito inteligente e - você sabe - sou bastante seletivo quanto a beleza e qualidade de algo, no caso literatura. A única coisa minha no artigo é "a ameixa do bolo": a frase em latim, traduzida "DUM VIVIMUS VIVAMUS", de meus "alfarrábios" do tempo da Facul de Direito.

Anônimo disse...

Nanda, que bom que você gostou! A única coisa minha no artigo é "a cereja do bolo, a frase em latim "DUM VIVIMUS VIVAMUS" dos meus "alfarrábios" dos tempos da faculdade de Direito.