sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A VIDA DE FLORBELA ESPANCA - Poeta portuguesa

A VIDA DE FLORBELA ESPANCA

FLORBELA ESPANCA nasceu no dia 08 de dezembro de 1894, em Vila Viçosa, Alentejo, filha de José Maria Espanca, cuja mulher, Mariana do Carmo Inglesa Espanca, por não conseguir ter filhos, consentiu que o marido engravidasse Antonia Lobo. Foi registrada como filha de Antonia da Conceição Lobo e de pai incógnito. Batizada com o nome de FLORBELA LOBO. Aos oito anos passou a assinar FLORBELA D’ALMA DA CONCEIÇÃO ESPANCA (legitimada dezenove anos após a sua morte). Foi criada pela família Espanca, mas sempre recebendo a visita da mãe biológica. Dois anos e três meses após o seu nascimento, o pai engravidou novamente Antonia Lobo, o que provocou ciúmes na esposa, que rejeitou a criança e a mãe. O menino de nome APPELES foi também registrado com o nome da mãe e pai incógnito Contudo, FLORBELA adorava o pai e até lhe perdoara por não tê-la reconhecido oficialmente. Mas tinha crises de nervo que os médicos não conseguiam diagnosticar, e, achavam que ela tinha problemas de ovários, contribuindo, assim, para a doença de pulmão.
FLORBELA fez o secundário em Évora, já casada. Suas primeiras publicações poéticas, inspiradas em Antonio Nobre, foram em jornais. Estudou Direito. Separou-se do marido e passou a lecionar francês, inglês, geografia e história em um Liceu, em Évora. Escreveu poemas, contos, cartas e diários, com a temática: amor, sofrimento e morte.
Foi desprezada pela sociedade da época, que não aceitava seu comportamento de fumar em público. Considerada uma das primeiras feministas de Portugal, principalmente, pelas suas defesas apaixonadas de liberdade e de amor. Teve mais dois outros casamentos, mas não conseguiu ser mãe, visto que abortou, involuntariamente, duas vezes. Permaneceu com o terceiro marido até a morte. Contudo, não foi suficiente para evitar um suicídio consciente e premeditado.
FLORBELA ESPANCA ressurge com o livro SONETOS, antologia dos melhores trabalhos: “Livro de Mágoas”, “Livro de Soror Saudade”, “Charneca em Flor” e “Reliquiae”. Pelo poder da poesia, oferece subsídio para o conhecimento mais profundo da sua vida e da sua obra. Poesia de rara beleza, cúmplice dos seus sentimentos, desnuda-lhe os segredos e proporciona vasto material a ser estudado por um prisma psicanalítico.
Este círculo, que principia com o nascimento de uma Flor que não brotou do amor, fecha-se com o último e definitivo enclausuramento, a morte. Toda a travessia de FLORBELA foi de anseios, procuras, tolhidos pelo próprio abismo da sua alma. Não superou os estranhamentos do seu nascimento. Quanto mais buscava vida, amor, mais os elementos repressores, subjacentes, levavam-na à clausura. Os castelos e conventos, num jogo de interdição, tiravam-lhe a chance de ser feliz. Lutou contra uma sociedade repressora, mas soube divinamente enviar sua mensagem, seu grito de revolta, seu testemunho de vida ao utilizar uma linguagem que tão bem conhecia: a poesia; necessidade de autopunição ou sentimento inconsciente de culpa e elemento sexualmente presente, tudo numa fusão instintiva:
“Seja o que for, será melhor que o mundo! Tudo será melhor do que esta vida.”

A POÉTICA DE FLORBELA
Cinzento

Poeiras de crepúsculos cinzentos.
Lindas rendas velhinhas, em pedaços,
Prendem-se aos teus cabelos, aos teus braços, 
Como brancos fantasmas, sonolentos...

Monges soturnos deslizando lentos,
Devagarinho, em misteriosos passos...
Perde-se a luz em lânguidos cançaços...
Ergue-se a minha cruz dos desalentos!

Poeiras de crepúsculos tristonhos,
Lembram-me o fumo leve dos meus sonhos,
A névoa das saudades que deixaste!

Hora em que teu olhar me deslumbrou...
Hora em que a tua boca me beijou...
Hora em que fumo e névoa te tornaste...
*******

 PRECE 
Quando nosso ímpeto humano nos derivar às coisas poucas e
pequenas da condição humana,
quando nosso espírito tender às irritações com a matéria e
as coisas visíveis do mundo nos
absorverem a ponto de nos transformar,
por favor Pai, faze-nos lembrar que
somos míseras criaturas inadequadas sem a
Tua presença!
Assim, vermos a quantos de nós Tu destes a segunda vida:
tirando-nos da morte certa e mantendo-nos para um propósito.
Preenche-nos com Teu Santo Espírito,
para acima de tudo compreendermos estas coisas,
que além do dom da vida inicial, Tu nos dás a cada dia  a segunda
vida no bater espontâneo de nossos corações cujo alimento
é somente Teu amor.
Tu nos remetes a uma vida maior que são nossos pais, nossos filhos
aos quais doamos nossa própria razão de viver!
Que é isto senão Teu pulsar em nossos corações?
Aqueles que passaram por situações indiscritíveis,
doenças tidas como incuráveis,
acidentes cuja máquina e o aço se trituraram e o frágil corpo saiu incólume,
precisamos ser insensíveis, incrédulos, mal agradecidos, sem fé
para não atribuirmos nossa sobrevida a um Teu milagre óh Pai!
O nosso pensamento mais importante cremos ser,
o de agradecimento onde
está implicita a Fé.
Nesta fração de segundo que o Teu espírito nos fala,
despedimo-nos de Ti,
não para irmos embora de Tua presença,
mas para os desígnios do santo labor.
Obrigado, obrigado Pai Eterno por nos manter vivos, não para nosso
prazer ou lazer, mas para podermos Te servir.
Tudo nós agradecemos e Te pedimos em nome do 
Pai, do Filho e do Espírito Santo,
e em nome de:
Jesus Cristo, Filho de Deus, o Salvador. 


Mauro dos Santos





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