sábado, 2 de setembro de 2017

A EFÊMERA NÉVOA DO AMANHECER




A EFÊMERA NÉVOA DO AMANHECER


“Infinitamente belo, insuportavelmente efemero.

                                                                     Rubem Alves

O mistério da vida é talvez maior que o da morte,
eis que a vida existe mas por si mesma não subsiste.
A nefasta morte que também existe - persiste e não desiste -
antiga como a própria sombra da noite, ela resiste.
Vai-se a vida para a morte existir.
Hoje, tantos anos depois, onde a noite dos tempos me separa
do Anjo que me fez sonhar e ser o que sou,
não tenho glórias para mim, mas para meus filhos e netos.
Rememoro em verdade a importância de sopesar a existência.
Passamos uma longa vida na ilusão de reter a sabedoria
sendo que ela nos é volátil como a efêmera névoa
do brilhante amanhecer.


 “E tudo que era **efêmero se desfez. E ficaste só Tu que é Eterno”
[Cecília Meireles]


Efêmero, do grego “ephémeros” significa “apenas por um dia”. De forma geral o termo efêmero é associado a tudo que é passageiro, transitório, fugaz, de curta duração.

Tentar reter o tempo, parar a vida, eternizar-se jovem, é sofrer anunciadamente, é a busca pelo efêmero...
A luz, as nuvens, a névoa, a chuva,
embora sejam apenas um instante mágico dentro da eternidade,
por elas podemos dialogar com o eterno.
Para a contemplação e deleite de nossos olhos
postam-se diante de nós as rochas,
as montanhas, os vales,
passam a terra, o ar, as águas e o fogo, mas o Eterno subsiste.



Toda a grandiosa beleza da Criação beleza das montanhas,
vales, mares, céus em cores, nuvens navegando
na plenitude do azul do firmamento.
Precisaríamos de milhares de vidas longas para apreciar um mínimo das maravilhas, somente de nosso planeta.




Toda a grandiosa beleza da Criação beleza das montanhas,
vales, mares, céus em cores, nuvens navegando 




 Precisaríamos de milhares de vidas longas para apreciar um mínimo 
das maravilhas, somente de nosso planeta.


As cordilheiras, os fiordes, as rochas, os abismos oceânicos estão sempre lá, mas como toda obra prima de arte sofrendo a intervenção do Artista. Elas - todas as obras - são o palco, não o enredo da peça. Como explicar, descrever uma flor para nossa alma e coração? O voo do beija-flor, o mimetismo do camaleão? Não cientificamente - com equações ou gráficos, nem busca da lógica para encaixe forçado da razão artificial -, como se tentar colocar uma catedral dentro de uma capela... Simplesmente admirá-los, observá-los para senti-los: criamos o enredo, damos movimento à nossa história, cores à aquarela da alma, que nos valem a vida.

Nossos sentimentos - sensações - vão para o eterno na rápida viagem de todo esse milagre lento qual fosse um século, breve qual fosse uma hora.
O que constrói as grandes paisagens vividas é a luz refletida, filtrada em raios multicoloridos por entre as nuvens, a névoa, as expressões e gestos de pessoas que povoam nossa existência, ou até mesmo o conhecimento, o olhar e estado de espírito de cada um de nós caminhantes. O subjetivo, o efêmero... contudo é a essência,  do corpo-envoltório, na aquiescência de nossa alma.

*
Somos maus aprendizes da arte de conhecer o mundo; lembremo-nos quantas vezes nós dizemos de pronto que ele nos engana...!

Um esquilo, por exemplo, está na hierarquia do tempo de existência como fossem instantes, e estoca o necessário para sua vida e seus filhotes. Não há desperdício de tempo, pois não há consciência do tempo para lhe fazer falta.

Nós outros, no entanto, desperdiçamos o tempo afetivo jogando-o como lastros ao mar; antes, muito antes, de o navio porventura vir a naufragar!

Se vivêssemos a vida - da forma dos esquilos e das borboletas -
constataríamos que o tempo não existindo, o iríamos ter para uso, com sobra. No entanto nós humanos com a noção do tempo, não temos tempo para nada.






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