sexta-feira, 14 de abril de 2017

OS 10 MAIS BELOS POEMAS COLETADOS EM O POETA NÃO TEM FIM - VINICIUS DE MORAES.



Eternamente Vinicius, suas poesias juntadas ao gênio musical de Jobim, correram e ainda correm o mundo, nas vozes de imortais como Sinatra, Iglesias e tantos outros ícones, dos que se foram e dos que ficaram.
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Os 10 mais belos poemas de O Poeta Não Tem Fim, 
Coletânea Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes: o grande poeta do amor. Consagrado por seus sonetos, o cognominado "Poetinha" é, sem dúvida, um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos – não só pela quantidade enorme de escritos, mas também pela beleza de seus versos. Vinicius fez parceria com muitos dos grandes músicos da MPB e da Bossa Nova, o que fez com que muitos de seus poemas fossem musicados e eternizados, também, pela música. Junto a Tom Jobim, chegou a Sinatra e

Poemas essenciais do eterno Vinicius de Moraes:

A uma mulher

Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.
Eu sei que vou te amar/Por toda minha vida
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu Sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar,
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver a espera
De viver ao lado teu
Por toda a minha vida.

A felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade sim…
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou da jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira.
Tristeza não tem fim
Felicidade sim…
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.
A felicidade é uma coisa louca
Mas tão delicada, também
Tem flores e amores de todas as cores
Tem ninhos de passarinhos
Tudo isso ela tem
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu trato sempre dela muito bem.
Tristeza não tem fim
Felicidade sim…
Soneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.

Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.



Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo 
de amar os teus olhos que são doces

Porque nada te poderei dar senão a mágoa 
de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa 
como a luz e a vida.
E eu sinto que em meu gesto existe 
o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu 
ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim 
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota 
de orvalho nesta terra amaldiçoada,
Que ficou sobre a minha carne 
como nódoa do passado.
Eu deixarei… tu irás e encostarás
 a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos 
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, 
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face
 na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência 
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros 
nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém 
porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento,
 do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, 
a tua voz ausente, 
a tua voz perenizada.



Soneto do amor maior

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer – e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente,

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos,
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos,
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos 
eternamente fugindo.
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo,
Não traz o exaspero das lágrimas 
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma…
É um sossego, 
uma unção, 
um transbordamento de carícias.
E só te pede que te repouses quieta, 
muito quieta,
E deixes que as mãos cálidas da noite 
encontrem sem fatalidade
o olhar extático da aurora.




Da solidão

A maior solidão
 é a do ser que não ama. 
A maior solidão
é a dor do ser que se ausenta, 
que se defende, que se fecha, 
que se recusa a participar 
da vida humana. 
A maior solidão 
é a do homem 
encerrado em si mesmo, 
no absoluto de si mesmo, 
o que não dá a quem pede 
o que ele pode dar de amor, 
de amizade, de socorro. 
O maior solitário 
é o que tem medo de amar, 
o que tem medo de ferir e ferir-se, 
o ser casto da mulher, 
do amigo, do povo, do mundo. 
Esse queima 
como uma lâmpada triste, 
cujo reflexo entristece 
também tudo em torno. 
Ele é a angústia do mundo 
que o reflete. 
Ele é o que se recusa 
às verdadeiras fontes de emoção, 
as que são o patrimônio de todos,
 e, encerrado em seu duro privilégio,
 semeia pedras 
do alto de sua fria 
e desolada torre.


Soneto da fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

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