O silêncio era mais piedoso...
M. Martins Santos
Nem tudo precisa ser
dito; nem tudo que se diz tem volta.
Muitas coisas se dizem
- que não deviam ser ditas;
muitas outras se calam
- que não mereciam calar-se.
As palavras são as
mesmas, em um e outro caso;
só a conveniência
delas, na circunstância, é que varia.
(...)
[Carlos Drummond de Andrade, no livro Os dias lindos]
Nem sempre me
calava por não ter o que dizer-lhe.
A maioria
das vezes preferia o silêncio mais piedoso,
do que
ouvir tudo o que não foi o que pensei ao lhe falar.
Não que só desejasse
ouvir o que queria; mas um vislumbre
de tua alma
com isenção do peso do aparente desprezo.
Meu amor
por você assustava a mim próprio tal a dimensão
que foi
tomando desde seus dezessete e meus vinte anos,
se conformando
ao longo do tempo em alma e coração...
Com as
portas da sede do meu amor sempre abertas,
o instinto
que acompanha o eu animal, percebia
uma
blindagem na sua alma.
Como se
fosse um revestimento interno de folha de chumbo,
com uma
válvula controlável de entrada e nenhuma de saída.
Não sei a
origem nem o tamanho de sua culpa, mas esse mecanismo letal, ao tempo paralisa
o pulsar do amor no coração.
Um coração
agonizante volta-se para a sua salvação.
Quando
reiteradas vezes em quase súplica, pedia-lhe não ironias,
os risos
sarcásticos, que abrisse o coração, não jogar com acintoso movimento de cabeça
os cabelos para trás...
Que acreditasse
no tanto que a amava: recebia seu conhecido riso de ironia... Pena, pois sua
boca e lábios eram lindos.
Vencido
pela exaustão das tentativas de abrir-lhe o coração, disse-lhe um dia: “Se tudo
acabar entre nós, será para o resto da vida”... Ela respondeu-me secamente:
“Para o resto da vida...” Nada mais que isso...
Após esse
dia morre aquele Ser, e surge outro que escreveu este poema:
O TANTO QUE TE AMEI
Lá no
século que se foi,
Fui jovem e
muito amei.
Mas tanto,
tanto a amei
Que sei que
mais fui eu.
Hoje no
século seguinte,
Velho um século
a mais
Deus meu,
como queria
Que não
tivesse sido eu!
[m.m.s]
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