UM CANTO
PARA AS ARAUCÁRIAS
Da janela do galpão, na querência de meus pais,
Quando guri, alçando a piá, eu era ainda,
Avistava perto e ao longe perfumados pinheirais
De araucárias tal floresta, viva e mui linda;
Quando guri, alçando a piá, eu era ainda,
Avistava perto e ao longe perfumados pinheirais
De araucárias tal floresta, viva e mui linda;
Eram
companheiros meus e de todos os animais.
No abrigo
dos pinheiros, vivia livre a gralha azul
Esquilos,
tatus mulinhas, macacos e os guarás,
As
araucárias indo embora, vão os símbolos do Sul.
Dá-nos uma
tristeza não localizada, mais nacional,
Ao lembrar
papai mateando, olhando os pinheirais,
Absorto em
pensamentos, acarinhando seu animal
Zaino que
zanzava solto tropeando com os demais.
Mas olhe bem
amigo, se os galhos do pinheiro alto
Não são
braços de círios levantados clamando ao céu,
Que os
homens não os desbastem todos deste planalto,
Vindo com
motos serras, seu ronco fazendo escarcéu
Saudade dos
ninhos de João-de-barro em seus galhos...
Da gralha
plantadeira de pinhões, dos latidos do guaxinim,
E relinchar dos
cavalos, dos galpões, das noites de orvalho,
A imagem dos
pinheirais está a ferro marcada em mim.
Se queres
saber o que é felicidade, são coisas pequeninas:
Um raio de
sol se anovelar com a poeira por entre as acículas
O matraquear
de uma curicaca na araucária onde se aninha.
Tudo passa
nesta vida, passa o Tempo e todo um destino
Só o que
jamais passa é a imagem da floresta de pinheiros
Que pouco
ficou, quase nada, do meu tempo de menino.
Só aglomerados
de concreto com nome irônico é o que resta,
Recanto das
Araucárias, Rua Pinheiral, na verdade são ravinas
Conseguidas
a moto serra, pelas mãos de turba tão funesta...!
[Mauro
Martins Santos]
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