domingo, 22 de maio de 2016


UM CANTO PARA AS ARAUCÁRIAS

Da janela do galpão, na querência de meus pais,
Quando guri, alçando a piá, eu era ainda,
Avistava perto e ao longe perfumados pinheirais
De araucárias tal floresta, viva e mui linda;

Eram companheiros meus e de todos os animais.
No abrigo dos pinheiros, vivia livre a gralha azul
Esquilos, tatus mulinhas, macacos e os guarás,
As araucárias indo embora, vão os símbolos do Sul.

Dá-nos uma tristeza não localizada, mais nacional,
Ao lembrar papai mateando, olhando os pinheirais,
Absorto em pensamentos, acarinhando seu animal
Zaino que zanzava solto tropeando com os demais.

Mas olhe bem amigo, se os galhos do pinheiro alto
Não são braços de círios levantados clamando ao céu,
Que os homens não os desbastem todos deste planalto,
Vindo com motos serras, seu ronco fazendo escarcéu



Saudade dos ninhos de João-de-barro em seus galhos...
Da gralha plantadeira de pinhões, dos latidos do guaxinim,
E relinchar dos cavalos, dos galpões, das noites de orvalho,
A imagem dos pinheirais está a ferro marcada em mim.

Se queres saber o que é felicidade, são coisas pequeninas:
Um raio de sol se anovelar com a poeira por entre as acículas
O matraquear de uma curicaca na araucária onde se aninha.

Tudo passa nesta vida, passa o Tempo e todo um destino
Só o que jamais passa é a imagem da floresta de pinheiros
Que pouco ficou, quase nada, do meu tempo de menino.

Só aglomerados de concreto com nome irônico é o que resta,
Recanto das Araucárias, Rua Pinheiral, na verdade são ravinas
Conseguidas a moto serra, pelas mãos de turba tão funesta...!

[Mauro Martins Santos]





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