sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

BEM NA PORTEIRA

BEM NA PORTEIRA
Cristiano Quevedo (Clip)



Circunstânciais os limites pra quem vive num moirão
Num rancho de terra bruta a um metro e tanto do chão
Um casal de João de Barro com paciência, bico e asa
Escolheu bem na porteira pra erguer o sonho da casa

O barro depois da chuva bastou pra toda morada
Mangueira de terra boa sovada com a cavalhada
O tempo fez dias claros e a construção foi parelha
Duas semanas e o rancho foi do alicerce pras telhas

O macho levava cantos pro timbre do alambrado
Na partitura da cerca, anunciava os bem chegados
Toda manhã de setembro um canto novo acordava
Quando a fêmea emplumada, por sobre o rancho cantava

Porta pro lado do sol, meter a cara em porfia
E um canto de passarinho chamando as barras do dia
Porque a vida tem sentidos, onde a razão não se cansa
De renascer todo o dia, aonde existe esperança

Mas foi bem junto com a chuva que uma tropa de cruzada
Se apertou bem na porteira querendo pegar a estrada
E o moirão num trompaço perdeu o entono e a razão
E derrubou o ranchinho de terra e o ninho pro chão

E a tropa cruzou por diante sem repara o que fez
Casco e pisada quebraram dois sonhos de uma só vez
E o barreiro repousado no outro moirão da porteira
Parecia que buscava ao longe sua companheira

Custou, mas cantou de novo, de asas e bico aberto
Quando o casal se encontrou num cinamomo ali perto
Pra erguer um novo rancho no mesmo ciclo de espera
Longe do cruzo das tropas, na próxima primavera.
ma primavera.

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