quinta-feira, 12 de março de 2015

ARREBANHANDO AURORAS

























ARREBANHANDO AURORAS

De manhãzita, a primavera é só uma listra lá na serra,
À noite ao invés da lua fria: o brilho em rebojo de cheia,
Corusca o tropel de estrelas gineteando no véu da terra;
É um idílio - que arde me invade e atropela volta e meia.

¹Rebolqueando desce o ouro das serras para os campos,
Renovando os frios capinzais como pederneiras de calor,
Mas há de ver, tropeada de pingos e fletes em ²forquilha,
Ao pago ponteado de flores de campo, trevo e ³flechilha!


Cismar é resquício ancestral de velhos e atávicos gaúchos,
Sorriem de sua mala suerte, e de seu próprio pensamento,
Num repente 4le golpeia de prancha o vulto da querência,
De sua prenda, morena lindaça, camoatim de seu lamento.

Ao após, a galopito e troteadas elevando o pó da estrada,
Mateando a espacitos, sem a morna maciez do corpo dela
Ora voltar não se alcança debalde: Tropa arreada, apartada...
Nem que brigue cusco de quatro, volto 5num vu logo pra ela!

Meu consolo é o mate bueno; meu  velho  e bom chimarrão
Noite insone: teu vulto, os beijos de minha prenda amada,
Castelhana de alma gaúcha, tu vens como ave de arribação,
De pilas na guaiaca; sem lero-lero; 6tapeo chapéu na estrada.

Solto soluços e suspiros de saudades pelo vasto estradão...
A hora não vejo de na querência chegar, para juntos matear
Volto a galope, descanso em trote, troco de flete de supetão,
E contigo, solitos em nossa querência: te amar... Amar...Amar...
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¹Rebolquear  v.– Quando o cavalo suado, se vê livre dos aviamentos: sela, manta,bardana, freios, rédeas, buçal etc. se refestela, se espojando na grama, esfregando as costas, de pernas para o ar, revirando-se, sobre si mesmo – uma forma de se coçar e se enxugar. No caso foi empregado no sentido figurado de “revirando sobre si mesmo” morro abaixo.
2.Enforquilhar v. - No regionalismo gaúcho “enforquilhar” é montar a cavalo. Estar enforquilhado é estar montado – Analogia às pernas humanas com a forquilha vegetal em forma de “Y” invertido.
3Flechilha (ou flexilha) – Grama de boa qualidade para os animais que não raro se acompanham de trevos por todo o sítio do pasto , diferentes das macegas (arbustos, capim alto e rui para os animais)
4 Le – pron. Lhe (Este vocábulo empregado na forma popular do Rio Grande do Sul, tem duas procedências, uma mais próxima até geograficamente, o castelhano; e, pelo português arcaico – Pl.: Les.)
5. Num vu - corruptela de "num vupt" =  rápido, depressa, ligeiro o mesmo que -  num vá - "num vapt" - da expressão "Vapt-Vupt". 
6. Tapear v. – Dar Tapas, no pescoço do cavalo (em treinamento) para induzi-lo a mudar de direção, seja à direita ou esquerda. Por analogia o gaúcho que usa o chapéu (segundo entre eles) bem tapeado é mais taita nas lides, nas peleas (“ Meu chapéu é bem tapeado” ) é aquele chapéu bem dobrado na testa. Mas há uma profusão de modelos de chapéu, inclusive a boina. Os chapéus tem uma característica: todos tem barbicacho (Cordão, cadarço. Trança de couro, tira de couro, com as extremidades presas à carneira do chapéu, uma de cada lado com uma borla corrediça para travá-lo no queixo nas lides do campo, em dias (quase sempre) de vento.








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