ARREBANHANDO AURORAS
De
manhãzita, a primavera é só uma listra lá na serra,
À noite ao
invés da lua fria: o brilho em rebojo de cheia,
Corusca o tropel
de estrelas gineteando no véu da terra;
É um idílio
- que arde me invade e atropela volta e meia.
¹Rebolqueando
desce o ouro das serras para os campos,
Renovando os
frios capinzais como pederneiras de calor,
Mas há de
ver, tropeada de pingos e fletes em ²forquilha,
Ao pago
ponteado de flores de campo, trevo e ³flechilha!
Cismar é
resquício ancestral de velhos e atávicos gaúchos,
Sorriem de
sua mala suerte, e de seu próprio pensamento,
Num repente 4le
golpeia de prancha o vulto da querência,
De sua prenda,
morena lindaça, camoatim de seu lamento.
Ao após, a
galopito e troteadas elevando o pó da estrada,
Mateando a
espacitos, sem a morna maciez do corpo dela
Ora voltar
não se alcança debalde: Tropa arreada, apartada...
Nem que
brigue cusco de quatro, volto 5num vu logo pra ela!
Meu consolo
é o mate bueno; meu velho e bom chimarrão
Noite insone:
teu vulto, os beijos de minha prenda amada,
Castelhana
de alma gaúcha, tu vens como ave de arribação,
De pilas na
guaiaca; sem lero-lero; 6tapeo chapéu na estrada.
Solto
soluços e suspiros de saudades pelo vasto estradão...
A hora não
vejo de na querência chegar, para juntos matear
Volto a
galope, descanso em trote, troco de flete de supetão,
E contigo,
solitos em nossa querência: te amar... Amar...Amar...
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¹Rebolquear v.–
Quando o cavalo suado, se vê livre dos
aviamentos: sela, manta,bardana, freios, rédeas, buçal etc. se refestela, se
espojando na grama, esfregando as costas, de pernas para o ar, revirando-se,
sobre si mesmo – uma forma de se coçar e se enxugar. No caso foi empregado no
sentido figurado de “revirando sobre si mesmo” morro abaixo.
2.Enforquilhar v. - No regionalismo
gaúcho “enforquilhar” é montar a cavalo. Estar enforquilhado é estar montado –
Analogia às pernas humanas com a forquilha vegetal em forma de “Y” invertido.
3Flechilha (ou
flexilha) – Grama de boa qualidade
para os animais que não raro se acompanham de trevos por todo o sítio do pasto
, diferentes das macegas (arbustos, capim alto e rui para os animais)
4 Le – pron. Lhe
(Este vocábulo empregado na forma popular do Rio Grande do Sul, tem duas
procedências, uma mais próxima até geograficamente, o castelhano; e, pelo
português arcaico – Pl.: Les.)
5. Num vu - corruptela de "num vupt" = rápido, depressa, ligeiro o mesmo que - num vá - "num vapt" - da expressão "Vapt-Vupt".
6. Tapear v. – Dar Tapas, no pescoço do cavalo (em treinamento) para
induzi-lo a mudar de direção, seja à direita ou esquerda. Por analogia o gaúcho
que usa o chapéu (segundo entre eles) bem tapeado é mais taita nas lides, nas
peleas (“ Meu chapéu é bem tapeado” ) é aquele chapéu bem dobrado na testa. Mas
há uma profusão de modelos de chapéu, inclusive a boina. Os chapéus tem uma
característica: todos tem barbicacho (Cordão, cadarço. Trança de couro, tira de
couro, com as extremidades presas à carneira do chapéu, uma de cada lado com uma borla corrediça para travá-lo no queixo nas lides do campo, em dias (quase
sempre) de vento.
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