terça-feira, 27 de janeiro de 2015

CARTA DE UM DIABO AO ADMINISTRADOR DE UMA ALDEIA


CARTA DE UM DIABO AO ADMINISTRADOR DE UMA ALDEIA

"O melhor método para expulsar um demônio, se ele não ceder aos textos das Escrituras, é ridicularizá-lo, zombar dele, pois ele não suporta o escárnio"
(Lutero)

"O diabo (...) o espírito orgulhoso (...) não
tolera ser motivo
de chacota"



       Esses casos assim denominados insólitos, às vezes bizarrosanormais ou fora do cotidiano, dependendo de quem os vê ou do ângulo visto, pode acontecer em qualquer época ou lugar no mundo.
       Ainda, depende do grau de conhecimento das suas defesas psíquicas, seu próprio psiquismo, e, sobretudo conhecimento do sobrenatural acomodado na esfera do Bem. Pois, isso vai depender da quantidade de Bem ou de Mal contido na pessoa que vai descrever, contar ou recontar sua vivência extraordinária.
      
       "Não tenciono explicar aqui como caiu em minhas mãos a correspondência que ora ofereço aos leitores.
       Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. Outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles. Os próprios demônio ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros, e saúdam o materialista e o mago com a mesma alegria" ( C.S. Lewis)

      
        
  Um diabo em desânimo, antes de voltar ao inferno, deixou ao chefe administrativo de uma aldeia a seguinte carta:
       -Um dia, (pois ninguém sabe quando chego e quando saio) cheguei a este lugar que vocês chamam "Val Felice", cujos habitantes nobre dirigente, irritantemente, fazem realmente jus ao nome de sua aldeia, pois vivem em amor, paz e usufruindo de Virtudes.
       Afirmo, Excelência, que usando de todas as minhas diabruras até as mais eficazes com que comando a maior parte do mundo, tentações e tentativas de discórdia (uma de minhas armas mais eficazes) fui incapaz de endemoninhar um habitante sequer de seus concidadãos, que tem o terrível mau gosto e hábito, de usarem um emblema de um peixe, ou uma cruz no pescoço ("com mil infernos!). Fazerem constantes orações ao meu inimigo, que me arrepiam de nojo e pavor; e, mais ainda, cantam músicas que falam de seu abominável mestre, que por mais que me esforce não consigo me aproximar deles.
       Senhor administrador e chefe religioso de "Val Felice" de ti também não consegui me aproximar, pois uma força me empurrava ao contrário. Mas, ao preparar-me para escafeder o mais breve daqui eis que surge  uma linda e jovem mulher de corpo fenomenal, além de bela, sensual e provocante - como os diabos gostam -  saída não sei de onde, do meio de um a labareda, e me afrontava com vanglórias e sarcasmos, dizendo-me que fui fraco e ela provaria ser mais eficiente que eu, desafiando-me que venceria nos locais em que fui derrotado, de goleada.
       Claro que duvidei Excelência! Mas ela sorriu sarcástica dizendo:
       - Vai embora capeta covardão, saia derrotado e humilhado, com esse rabão comprido metido entre as pernas, para que o povo de "Val Felice" morram de rir lá na igreja; que é o lugar onde mais se abastecem contra ti. E deu uma estridente e divertida gargalhada na minha cara Excelência! Na cara do demônio que sou!
      
        O diabo assim humilhado, por tão vil desafio, e proferido por uma mulher, amarraram ali mesmo uma aposta.
        Ela propôs ao capeta, visitar a casa de um casal, modelo de amor e felicidade. Aproveitaria a ausência do marido representante de uma multinacional, que às vezes pousava na localidade em que fora visitar.
       Fez-se amiga da jovem esposa. Depois de ganhar a confiança da mulher, foi logo dizendo: - Gertrudes, os homens, dos quais eu conheço o mapa de cor e salteado, eu sempre soube, mas de dias para cá tenho a certeza, eles são todos uns trastes! Quer uma prova? Saiu toda rebolativa com seu corpo escultural, seu decote mais do que generoso, seus cabelos negros longos lisos e brilhantes, lábios vermelhos e saltos altos, vestido justo vermelho brilhante. Deu um pequeno passeio na rua de Gertrudes. Um homem entrou com a bicicleta em um buraco e caiu. Outro trombou com um poste. Ainda outro, ficou com a correia e a coleira na mão, sem o cachorro que fugiu! Todos e mais alguns, por terem ficado hipnotizados com a presença daquela mulher.
      
        Ela volta e fala para Gertrudes: - Não falei para você minha querida! Os homens são todos uns trastes, uns cachorros sem-vergonhas, não merecem o dedicado amor de nós mulheres! Para onde vão, amam e dormem com outras!
       -Olhe! Eu nada tenho a ver com o que você pensa... Apenas - você viu a prova - esta é a verdade, minha pobre e querida Gerthy. E saiba minha querida amiga, que o seu Rui não é diferente desses honrados homens que quase "se mataram" para me olhar, não! E veja que eles não ficam um domingo sem frequentar a igreja.
       -Gerthy querida, você sabe por acaso onde está o Rui agora e o que ele está fazendo?  Não, né!? Já sabia...
       Mas escute bem esta amiga aqui. Tem uma coisa "simplérrima" que você pode fazer; o seguinte:
      
 - Quando o Rui voltar para casa, na hora de dormir, você lhe nega fazer amor por estar com muita dor de cabeça, e se ele for te beijar você diz que está com muito sono. Quando ver que ele já está dormindo, você... Gerthy, pega uma faca bem afiada e corta dois ou três fios da barba e do cabelo do Rui. Certo, Gertrudes querida!? – Uma faca. Tesoura não vale.

Por que isso?? Porque você vai me passar esses fios de barba e com eles eu farei uma simpatia infalível que aprendi com minha tia Zuleica. Ela fez e não falhou. Para todas que eu fiz a poção, nunca mais nenhum marido olhou para outra mulher. Com você vai ser a mesma coisa. O Rui vai pegar ojeriza por outra que não seja você. Vai ver!

       Gertrudes, que a mulher fatal já intimamente chamava de Gerthy, fez a estapafúrdia promessa à intrusa, e, acreditou piamente nela.
       Fato contínuo, a sagaz mulher intercepta Rui antes de chegar
em casa. Fala que ele tenha calma e se controle, que infelizmente toda a aldeia sabe que sua esposa o está traindo com o estancieiro; que era seu amante e que ambos haviam tramado matá-lo enquanto dormisse. Que, a encarregada de assassiná-lo era sua própria mulher com uma faca muito afiada, de matar porcos lá da estância. Com todos esses detalhes, Rui ficou ansioso de que a história daquela mulher fosse mentira, visto o imenso amor que tinha pela esposa.
      
       O melhor truque que encontrou foi fingir que estava dormindo; com os sentidos aguçados, com "um olho aberto e outro fechado".
       Então, que desgraça! Viu Gertrudes vindo com a faca muito afiada. Saltou para fora da cama num "pulo de gato" o mais longe que pode da faca. Num repente, de lá, saltou sobre ela esfaqueando-a mortalmente no peito, com uma outra faca que havia deixado debaixo do travesseiro. Gertrudes caiu sobre uma poça de sangue.
      
       Cumpriu a certeza de sua defesa, com sabor de vingança: - Pensou Rui.
       A notícia espalhou-se na aldeia como fogo na palha: irmãos, primos, os pais, tios, amigos... Todos correram ao local onde flagraram Rui em estado de choque, sem conseguir se mover.
        Não houve conversa, pergunta nem argumentos, Rui foi linchado, trucidado, pela família numerosa de Gertrudes. Por vingança, ódio e furor insano, perante o cenário horripilante.
       O ódio se apossou daquelas pessoas, que até antes eram pacíficos e ordeiros, cumpridores das leis e seus deveres. Retiraram o corpo de Gertrudes do quarto e o levaram. Em seguida atearam fogo na casa com o corpo de Rui semivivo lá dentro e todos em massa, urrando e proferindo palavrões indizíveis foram à cata dos demais parentes de Rui: dizimando, velhos e crianças desde que fossem aparentados, queimando as casas e matando os animais. Nem cachorro ficou vivo.
      
      Com isto deflagrou-se uma guerra entre famílias, Foram computados, antes que a guerra familiar chegasse ao fim, mais de 18 crianças de todas as idades, até as que mamavam, 115 mulheres, entre meninas, adolescentes, moças e velhas  135 homens de todas as idades, não importando o grau de parentesco, desde que fossem da família  de Rui Stephanus, ou seus agregados. Somando-se os da família de Gertrudes com menos baixas.

      O diabo ficou pasmo de surpresa, seus pelos se eriçaram horrorizado com a eficiência daquela mulher, que não só fez a desarmonia entre o casal, como os fez se matarem e causar uma terrível guerra entre famílias, que sabe lá quando ia terminar.
      
      Deixou o seguinte final em sua carta ao administrador da Aldeia: Vocês nunca mais me verão por aqui! Perdi a aposta para uma mulher...! Ela com certeza pode mais que uma legião de demônios!! Até nunca mais “Val Felice.”
   

    - Fui! - Concluiu o diabo. 

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