segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

UMA CEIA DIFERENTE Na passagem do ano de 2012 para 2013 fui convidado para participar de uma ceia oferecida a moradores de rua por uma Associação Espírita de nossa cidade. A principio fiquei surpreso, refleti um pouco e pensei seriamente em não ir. Afinal, pensei: não fica bem eu me “enfiar” num lugar deste e correr o risco de ser criticado por uma atitude que poderá ser considerada tresloucada por muitos. O referido convite partiu do Diretor da Associação, via e-mail, pelo fato de eu ter publicado um artigo no Portal de nossa cidade sobre a vida e as dificuldades dos moradores de rua, inspirado que fui numa reportagem que assisti na TV Record. O referido Diretor da Associação se dizia um fã incondicional em função de meus escritos publicados já há quase três décadas na imprensa local. Tudo me parecia bem “armado” para que eu fosse áquela ceia. Então pensei: eu não vou ter como escapar. Noite chuvosa, eu sem carro, tive algumas dificuldades para chegar até aquele local. Cheguei pesaroso explorando primeiro o terreno... Parei de longe para ver o movimento, passei em frente, depois voltei, olhei... já estava pensando em desistir quando encontrei uma pessoa e começamos a conversar, e então eu lhe falei do meu dilema. Esta pessoa me convenceu a entrar naquele recinto onde já se aglomeravam pessoas diferentes que iriam participar daquela ceia que para mim era muito diferente. Criei coragem e entrei. Confesso que me assustei, a princípio, com a aparência e os gestos das pessoas ali presentes. Fiquei olhando meio de longe, ainda pensando em desistir. Aos poucos, porém, fui me sensibilizando e de certa forma me apegando áquelas pessoas tão carentes e tão inofensivas. Vi mães com crianças nos braços, vi jovens, senhores e senhoras, homens barbudos, doentes, mal vestidos e aparentemente sob o efeito de alguma droga. Isto tudo me sensibilizou ainda mais e fez doer meu coração. Enquanto olhava aquelas pessoas e me sensibilizava com elas, vi chegar o Diretor daquela associação. Todos fizeram silêncio enquanto ele anunciava que antes da ceia ia fazer uma prece de agradecimento. Fiquei atento a cada palavra e a cada gesto. Quando ele terminou e as pessoas começaram efetivamente a comer, percebi que ele estava saindo, então me apressei para lhe falar. Fui reconhecido por ele que me cumprimentou e me apresentou a uma parte de sua equipe de trabalho e logo depois me convidou para conhecer o albergue. Para mim foi algo inédito, foi uma lição de vida da qual certamente jamais vou me esquecer. Conheci o dormitório, a cozinha e me certifiquei de como é o dia a dia de um albergue e a sua importância no contexto social de uma cidade. Enquanto a chuva caía, eu me despedia daquele local, mas posso dizer com toda convicção: um pedacinho do meu coração ficou lá. Pude constatar que ainda há pessoas que lutam pelos mais necessitados, e que ainda há amor colocado em prática e não deixado apenas na teoria como se fosse algo nulo e subjetivo. Recebi e guardei mais esta lição. Cícero Alvernaz (Presidente da Academia Guaçuana de Letras e cidadão guaçuano). Mogi Guaçu, 03 de janeiro de 2013.

Um comentário:

Mauro Martins Santos disse...

Excelente artigo. Interdenaminacional,como deveriam ser, os que pretendem ser conhecedores do Espírito Santo de Deus. Ser escritor é isso, passar o que sente no que vê. Capta as intenções, imagens e cenários. Não se esconde nem se omite como os hipócritas.
Jogo nesse time? Não! Mas aprecio a forma de jogar? Tem bons craques que convidaria para minha seleção? Sim! Isto posto e entendido, parabéns meu correto amigo e hábil escritor, meu presidente da AGL, o sempre Cícero Alvernaz.