BUSCAR O SABER...
O tempo corre tão depressa com os corpos que precisamos parar e
esperar nossa alma chegar. [De um conto indígena]
Tenho que penetrar fundo nas coisas que desejo saber - não
saber e continuar não sabendo gera-me um sentimento de culpa, e malevolente inoperância.
Chega a afetar-me a disposição, causando-me uma sensação de pequenez e
incompetência. Com propriedade disse o gênio da escultura Michelângelo:
“Como faço uma escultura? Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo que não é necessário.”
Outra frase de Michelângelo diz: “Não faço esculturas, na
verdade, elas sempre estiveram lá. Eu apenas retiro os excessos.”
O que me faz lembrar de uma metáfora que não me lembro onde a li, mas a mim diz muito: - Eu encontro meus heróis onde os busco.
O que faço e precisamos todos fazer, é penetrar através
da carapaça que reveste a matéria e ir ao seu âmago que se nos apresenta como mistério ou impossibilidade.
Muito do desconhecido ou ignorado, recai na ignorância bruta
e por sua vez na violência que é o ato de ruptura do ignorar , não saber, mas
desejar.
O desejo de possuir algo material - se for trabalhoso,
difícil, e o indivíduo for sem preparo para a vida, ignorante na acepção da palavra; de duas uma: ou ele abandona e se vai ou
usa de ilimitada violência para abrir a argamassa que o separa do bem almejado.
A busca do poder é um grande e claro exemplo, quanto mais
ignorante for o postulante ao poder, mais violento ou mais usuário de meios
ilícitos será, corrompendo, roubando, matando, propinando. Não importa a ele em sua volúpia de poder se vai cometer genocídio, o que poucos notam é que um usurpador, saqueador, do erário na essência é um genocida.
O saber não é privilégio deste ou daquele, mas trabalho
físico-mental e intelectual, dos que têm força de vontade dedicação e persistência. Não é o dinheiro, caso fosse, todos os poderosos seriam luminares, gênios, mestres, doutores, intelectuais, sábios. Mas não, o que vemos é vergonhoso. Ocorre infelizmente na sociedade humana dita racional, o que as formigas operárias fazem para engordar e manter forte e saudável sua rainha; independente do tamanho, cor ou espécie das formigas. A rainha em sua zona de conforto é alimentada, cuidada, protegida, tem o "povo operário das formigas" para o trabalho e seu exército de proteção ao "reino".
Outro fator que vira e mexe uns "iluminados" alegam - é a questão da origem. Balela e falcatrua das maiores! Assim fosse, Abraão Lincoln seria um marginal, porque até os 33 anos foi lenhador com o pai e mais pobre não podia ser. Foi aprender a ler, entender de leis, escrever petições à luz de vela, escondido no General Store que foi trabalhar. Abria os caixotes de livros que vinham de encomenda para os advogados. Lia-os, retinha o saber, e devolvia cuidadosamente aos caixotes. Enfim, todos sabem quem e o que foi Lincoln.
Aqui no Brasil recente, um negro retinto, chegou a ser ministro do STJ com seus próprios méritos (foi de carreira) e de criança a adolescente entregava lenha para as casas queimarem em fogão lá em Minas Gerais.. Quando teve sua própria carroça foi uma vitória. Modelo de honradez e justiça, e de ilibado conhecimento jurídico, aclamado pela maioria da nação. E, Augusto dos Anjos, e Machado de Assis... E tantos outros... Aqui e lá fora.
A persistência faz com que a pessoa
prossiga em busca de seu objetivo mesmo encontrando caminhos difíceis, grandes
obstáculos, que consegue diminuí-los frente a tenacidade com que luta contra o
que seria, os mais desanimadores desafios ou obstáculos.
Nesta concorrida sociedade cada vez mais heterogênea e
enigmática em um mundo em que a grande maioria desiste antes do fim do túnel,
os persistentes furam o céu e passam na frente de todos aqueles que se sentaram
a beira do caminho. Por entregar o corpo a um antecipado cansaço, outros por preguiça,
interesses secundários de lazer, o ninho de algodão da zona de conforto. Covardes
perante a vida, tomadores de atalhos - terrível fracasso os espera por pusilanimidade;
jogam fora uma carreira e seus desleixados objetivos.
No entanto a persistência precisa andar junto da modéstia
e da humildade, sem humilhação - que é a dose certa da autocrítica, da análise
para discernimento de propósitos do melhor para si. Sem compromissos com o
erro. Voltar atrás pela reflexão das conveniências. Mudar planos, rumos. Não há
humilhação alguma em buscar as pontes mais resistentes, os caminhos mais seguros
de acordo com as expectativas do momento de seu país e do mundo. Isso é ter
lucidez somada à persistência dos melhores propósitos.
Disse Henry Moore [1898-1986], artista plástico e
escultor - mudou na Inglaterra o conceito da escultura: “De tanto penetrar no coração da matéria acabei descobrindo o Céu do
outro lado.”
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